São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 1997
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'O Sonho' revela pesadelo humano

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA

"Como o ser humano é digno de lástima". É com esta frase que Agnes, a filha do deus hindu Indra, sagra sua passagem no mundo dos mortais.
Este é o enredo da peça "O Sonho", de August Strindberg (1849-1912), que foi montada com atores do teatro Castro Alves, de Salvador, pelo diretor mineiro Gabriel Villela, e que estréia hoje no 6º Festival de Teatro de Curitiba.
Na montagem de Villela, o diretor optou por resgatar e registrar, de forma marcante, os mortos pela hemodiálise de Caruaru e a peregrinação dos sem-terra como ilustrações das lástimas humanas.
Humanos são alimentados com bolsas de sangue no espetáculo. "Mostro que precisamos trocar o nosso sangue com o sangue divino, que pode nos redimir", disse Villela.
O conflito dos sem-terra também aparece, seja nos pés, com chinelos de trabalhadores, seja na ação. "É terrível que alguém tenha que dar a vida para trabalhar na terra", afirmou.
Sentimentos humanos
O sonho do título poderia ser referência ao início da peça, quando Agnes implora a seu pai para conhecer os humanos.
Desejo consentido, Agnes chega à Terra flutuando no ar, em uma belíssima cena. Mas logo depara com a trivialidade, a falta de amor à vida, as mesquinharias dos mortais.
Agnes casa-se com um homem, gera um bebê e descobre que a vida humana é como uma prisão, com restritos prazeres.
O sonho passa a ser a utopia de viver como mortal e ser feliz. "Agnes, ao descobrir o que é viver como humano, foge daqui. Não aguenta. Constata como o ser humano é digno de lástima", disse Villela.

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