São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 1997
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Moacyr Góes encena Aristófanes no Sesi

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ele já foi tachado de hermético e criticado por ter no elenco de seus espetáculos estrelas globais como a ex-paquita Letícia Spiller. Já encenou Molière, Ibsen, Brecht, Ghelderode, só para citar alguns dos clássicos.
Agora, o diretor teatral Moacyr Góes chega a São Paulo, com seu primeiro espetáculo montado especialmente na cidade: "Assembléia de Mulheres", que estréia no próximo dia 26 no Teatro Popular do Sesi.
O texto é do grego Aristófanes e narra as peripécias de um grupo de mulheres atenienses que tomam o poder da pólis. Entre seus "decretos", transformam em público os bens de todos os cidadãos e instauram o sexo livre -com a condição de que os homens, antes de se deitarem com as jovens, durmam com as feias e velhas.
"O cômico é uma experiência que me interessa muito, que surge como possibilidade de subversão", explicou o diretor à Folha, durante os ensaios da peça.
Se o texto é clássico, a encenação, nem tanto, na opção de um diretor que, hoje, deseja "dialogar com a platéia".
"Cortei todas as referências míticas diretas da montagem, para não distanciar o espectador que não tem conhecimento delas", declarou.
Porém, ele ressalta que fugiu das tentativas de "trazer o texto para os dias atuais", já que isso, em suas palavras, apenas tornaria o espetáculo superficial.
"O que me interessa é a cena. Só existe o que está ali. Se eu não conseguir transmitir o que quero, então não serve -e isso independe do grau de informação da platéia."
Para interpretar o texto de Aristófanes, o diretor buscou a experiência de artistas como Helen Helène e Walter Breda -"um dos maiores atores brasileiros".
Sobre a expectativa de montar um espetáculo na cidade de São Paulo, Góes, 15 anos de carreira e prêmios Shell e Molière no currículo, define: "Não me importa o lugar: eu estou em pânico permanente. Não tenho idéia do que me espera e não sei se o que faço vai interessar a alguém".
Rumos teatrais
Em suas declarações, Góes deixa transparecer uma profunda preocupação com os rumos do teatro, em frases como "o teatro brasileiro precisa largar o ego no cabide, deixar de ser personalista".
"Minha grande questão atual é saber quais os limites dessa arte", acrescenta. Para ele, é necessário que se entenda que, hoje, o teatro não é elitista, mas sim restrito.
"Ele deve buscar seu lugar. Procurar é seu caminho", filosofa.
A crítica teatral, que para ele tem profunda importância "nesse jogo", não escapa de seu crivo.
Relembra com nostalgia das desavenças "saudáveis" de opinião que tinha com o conceituado crítico Yan Michalski e, pensativo, afirma que "a crise da crítica atual é maior do que a crise da cena".
Com a agenda completamente lotada, em que cabem projetos tão ecléticos como montar "Toda Nudez Será Castigada", de Nelson Rodrigues, e "Divinas Palavras", de Valle-Inclán, Góes chega a uma conclusão: "Não pertenço a nenhum grupo, não gosto de 'igrejas'. Adoro empreitadas".

Peça: Assembléia de Mulheres
Direção: Moacyr Góes
Autor: Aristófanes
Com: Walter Breda, Helen Helène, Malu Pessin, e outros
Quando: estréia dia 26 de março; quarta a sexta, às 20h30; sábado, às 17h e às 20h30; domingo, às 17h
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 011/284-9787)
Quanto: entrada grátis

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