São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 1997
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A saúde merece mais

CARLOS F. DANTAS ANJOS

O novo ministro da Saúde, Carlos César de Albuquerque, logo após sua indicação para o cargo, fez controversas declarações à imprensa, ao afirmar "estar assumindo um abacaxi muito grande", e que o princípio da saúde universal e gratuita é "uma filigrana, uma coisa mais ou menos secundária".
Entendemos essas declarações como iniciais, de quem ainda procura inteirar-se dos complexos problemas a administrar seja no terreno administrativo, da vigilância sanitária e epidemiológica, do atendimento hospitalar, fornecimento de medicamentos e produção de vacinas etc. Realmente, só com muita fé o ministro conseguirá descascar alguns pedacinhos desse "abacaxi".
Contudo suas declarações, tomara que estejamos equivocados, passaram-nos uma visão simplista de que problemas sociais, como os da saúde, podem ser vistos menos como política de governo e mais como "abacaxis a serem descascados", portanto, secundários.
Não parece que os relevantes problemas da saúde pública devam merecer atenção secundária, sob risco de vermos milhões de brasileiros ainda mais marginalizados dos recursos de assistência médico-sanitária, necessários à preservação de suas vidas.
Mais preocupante ainda é quanto a considerar o princípio da saúde universal e gratuita como "filigrana" e "secundária". Esse princípio constitucional foi uma das mais importantes conquistas obtidas com a Constituição de 88.
O discurso em moda tenta vincular ineficiência administrativa, falta de recursos e queda da qualidade no atendimento à falência do modelo do SUS.
Pesquisa divulgada por esta Folha revelou que mais de 80% da população em São Paulo considera bom o atendimento prestado pelo SUS.
Para essa maioria, o SUS é a única fonte de atendimento em saúde, que, bem ou mal, assegura-lhes os recursos para o tratamento das doenças endêmicas, meningites, Aids, cardiovasculares, vítimas da violência e mesmo atendimentos mais complexos como transplantes, grandes cirurgias, neoplasias, órteses/próteses etc.
Melhorar sua qualidade, buscar fontes permanentes de financiamento, desenvolver novos modelos de gerenciamento com autonomia e controle público, bem como garantir a integralidade do atendimento, são os desafios prioritários e muito mais importantes que a quebra da conquista da universalidade do atendimento.

Carlos Frederico Dantas Anjos, 41, é secretário-geral do Sindicato dos Médicos de São Paulo, secretário-adjunto da Federação Nacional dos Médicos e presidente da Associação dos Médicos do Hospital Emílio Ribas.

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