São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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Infectologista vê 'patrulha científica'

Lógica da pesquisa é "cruel", diz médico

DA REPORTAGEM LOCAL

Os autores do estudo se defendem das acusações, que vêm sendo feitas desde o ano passado por alguns médicos e entidades de portadores do vírus da Aids, de que a pesquisa não seria ética por expor pacientes a tratamentos pouco eficazes, como a monoterapia, o uso de apenas uma droga para combater o avanço da Aids.
"Não aceito patrulhamento científico", afirmou o médico David Uip. "Quem faz este tipo de crítica não sabe o que é fazer pesquisa científica. Todos os autores desse estudo têm a consciência tranquila e podem dormir em paz."
A pesquisa científica, disse Uip, não tem por objetivo dar o melhor tratamento existente, mas comparar terapias distintas e ver qual é a mais eficaz.
O médico Jamal Suleiman, do Hospital Emílio Ribas, disse que a lógica da pesquisa científica é "cruel", mas é assim mesmo que o conhecimento avança.
"Há uma troca de interesse entre os autores e os participantes de qualquer pesquisa. É um jogo de sedução", afirmou.
Jamal lembrou que todos os participantes da pesquisa eram voluntários e que poderiam deixar o estudo a hora que quisessem. O estudo foi abandonado por 162 pessoas, segundo ele.
O médico disse que a maioria dos participantes não sai de um grande estudo, como o da Merck, porque sabe que o tratamento para Aids na rede pública é pior do que o fornecido na pesquisa. "Infelizmente, essa é a realidade", disse.
A crítica de que os brasileiros estariam sendo cobaias de um experimento que nunca seria aprovado num país desenvolvido foi rebatido com veemência. "Não estamos fazendo nada de diferente do que seria feito em outro país", disse o médico Guido Levi, também do Hospital Emílio Ribas.
Os médicos afirmam que, em linhas gerais, os pacientes dos três grupos de estudo apresentaram melhoras durante a realização da pesquisa.
A diferença é que a melhora dos pacientes que tomavam o Indinavir, isoladamente ou no coquetel de drogas, foi muito melhor do que a do grupo que era medicado com AZT e 3TC.
"Onde havia o Indinavir, a melhora era clara", disse Rogério Prado, diretor médico do laboratório Merck.
Daqui para frente, todos os participantes serão tratados com um coquetel de drogas. O médico de cada paciente vai escolher quais drogas estarão nesse coquetel.
A Merck prometeu dar tratamento a todos os participantes por um tempo indeterminado.

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