São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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"Deus Cruel" é teatro no teatro

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA

"Um Deus Cruel", peça que estréia hoje, às 21h30, no penúltimo dia do Festival de Teatro de Curitiba, procura fazer um retrato fiel de um grupo de teatro nos anos 80/90. O texto foi escrito pelo crítico de teatro Alberto Guzik para o diretor Alexandre Stockler.
"Minhas peças são consideradas cinema, não peças de teatro. Desta vez é teatro no teatro. Lido com emoção, com o naturalismo, para aproximar o texto das pessoas", disse Stockler.
"Um Deus Cruel" coloca em cena um grupo de recém-formados de uma escola de arte dramática, a Trupe das Ilusões Perdidas.
O texto aborda a vaidade e o egocentrismo dos integrantes do grupo, as dificuldades dos ensaios, a Aids rondando.
"Mostramos nesta peça muitas situações similares que nós mesmos já vivemos", disse o diretor.
A linguagem lembra o clipe, com diálogos ágeis e precisos, segundo o diretor.
Além do cotidiano do grupo, peças são encenadas dentro da peça. No teatro, a metalinguagem é evidenciada e até reforçada com ironia pelo diretor.
As cenas com personagens específicos trazem estilos e tipos do teatro. Por exemplo, a estrela da companhia é encenada como um "clown com pose", a cena com o banqueiro que pode patrocinar o espetáculo apresenta melodrama, o administrador mostra o drama e a farsa, o repórter é um palhaço, um clown.
"Tiro sarro dos estilos. Mostro que o teatro é isso. Ao final da peça, não fica claro para o público se aquilo tudo realmente aconteceu, se é só encenação, só teatro dentro do teatro e se realmente aquela história se desenrolou no período de 13 anos", afirma Stockler.
Aids
"Um Deus Cruel" enfoca também a Aids entre artistas. Um dos atores da companhia, o principal, descobre que é aidético. Aquilo abala a rotina e põe à prova amizades.
"Com o aumento da sobrevida, os artistas que têm Aids enfrentam o desafio de conviver com a doença e continuar produzindo. O personagem da peça, depois que descobre que tem Aids, resolve montar 'Hamlet Machine', uma peça dificílima. Tinha interesse em mostrar esse convívio dos artistas com a Aids nesta montagem", disse Stockler.

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