São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Maquiavel que o diga

RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA

As grandes transformações ocorridas no mundo, entre os séculos 14 e 17, marcadas pelo Mercantilismo, como modelo econômico, e pelo Renascimento, no plano científico, cultural e artístico, encontram explicações lógicas, embora nem sempre congruentes, nas diferentes correntes filosóficas.
Independentemente de qual justificativa histórica seja a mais correta, o fato é que, àquela época, a humanidade deu um grande passo rumo ao desenvolvimento das idéias, dos costumes, da organização social e política e da configuração da ordem econômica que prevaleceria na Idade Moderna e, posteriormente, no mundo contemporâneo.
Sobre o processo histórico relativo àquele período, há um consenso intangível entre todas as tendências de pensamento: um dos principais vetores das grandes transformações foi o advento do tipo móvel para impressão, criado pelo alemão Johann Gutenberg em 1448.
A comunicação, democratizada pela possibilidade de se imprimir em larga escala, suscitou a difusão das novas idéias, que brotavam, efervescentes, em "O Príncipe", de Maquiavel (que sustentou filosoficamente o absolutismo), no "Elogio à Loucura", de Erasmo de Roterdã, na poesia épica veneziana de Ariosto e Torquato Tasso e nos textos, poéticos ou em prosa, que descreviam o novo papel do Estado monárquico, as grandes navegações e a explosão do comércio internacional.
O mundo vive, agora, uma transformação histórica comparável à verificada no Renascimento. A implosão do comunismo, a prevalência do capitalismo e da democracia, o processo de globalização, os blocos econômicos, tecnologias sofisticadas, o requisito da competitividade no universo empresarial, a exigência de um Estado eficiente, os desafios da sobrevivência com dignidade de grandes contingentes populacionais e a afirmação sem precedentes da cidadania são alguns dos fenômenos que caracterizam a história contemporânea.
Nesse contexto, desempenham a missão da imprensa de Gutenberg os grandes jornais, os livros de tiragem gigantesca, as grandes revistas, os satélites, a multimídia, a TV a cabo, as redes nacionais de rádio e televisão, a Internet e os ciberespaços virtuais.
A comunicação social, portanto, assume, cada vez mais, papel estratégico fundamental para empresas, entidades de classe e governos. Trata-se de um instrumento imprescindível para a interação de todas as instituições com os seus públicos específicos, o consumidor cidadão, o contribuinte, o eleitor e todo o conjunto da sociedade.
Fortalecer esse conceito, desenvolvê-lo, ordená-lo e consolidá-lo no país tem sido a missão de uma entidade que completa, em 1997, 30 anos de existência. Trata-se da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).
Exemplo maior de o quanto é indispensável ser eficiente na comunicação é o próprio país. A disseminação da TV a cabo, por satélite e assinatura tem possibilitado aos brasileiros assistir, com maior frequência, aos jornais e documentários das grandes redes mundiais.
Nesses programas, as imagens e informações prevalentes sobre o Brasil são as de um país devastado por fome, miséria, criminalidade, destruição da Amazônia e dos recursos naturais, e alta mortalidade infantil. O mundo parece desconhecer as mudanças em curso no país, como a moeda estável, a revisão constitucional, enxugamento e maior eficiência do Estado e outras ações voltadas ao desenvolvimento.
Claro está que o país carece, em nível governamental, de uma ação urgente, eficiente e sistemática na área da comunicação, para expor ao mundo a sua condição de mais promissora potência emergente deste final de século. Não há exagero em se afirmar que, sem essa estratégia, será muito mais difícil e complexo promover a inserção não-passiva do país na economia globalizada.
Não há mais tempo a perder. Ser ágil nas ações é condição básica para a sobrevivência, na ebulição do mundo contemporâneo. E isso inclui a capacidade de comunicar com eficiência, pelo menos há 549 anos, quando Gutenberg apresentou sua invenção. Maquiavel que o diga!

Texto Anterior: Pátria para todos ou para ninguém
Próximo Texto: Saiba como escriturar o livro-caixa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.