São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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Artes valorizam ponte aérea

CELSO FIORAVANTE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Monet e Morandi, Louise Bourgeois e Niki de Saint-Phalle, Nan Goldin e Robert Mapplethorpe. Com todas essas mostras em cartaz -todas disponíveis no eixo Rio-São Paulo-, até parece que o Brasil foi promovido ao Primeiro Mundo das artes plásticas.
Ao mesmo tempo que a efervescência da cena fecha o verão, também evidencia uma série de iniciativas que viabilizaram esse mercado cultural: museus e instituições melhor equipados, mais investimentos dos patrocinadores e assiduidade do público espectador.
Ainda colaboram a estabilidade econômica do país, a credibilidade das entidades culturais brasileiras no exterior, a evolução da museologia do Brasil e a cooperação/concorrência entre as metrópoles.
Heloisa Lustosa, diretora do Museu Nacional de Belas Artes (que está abrigando a mostra "Monet"), acredita que a rivalidade artística entre as duas cidades vai continuar acontecendo.
"Ela é até saudável. Todos desejam as boas mostras para seus museus, mas o que não pode haver é um tentar puxar o tapete do outro, pois é o Brasil quem perde com essa queda-de-braço", disse Lustosa.
O MNBA também é exemplo no item "museu melhor equipado". Para receber a mostra "Monet", passou por um processo de restauração e climatização de seus espaços de cerca de US$ 1 milhão.
Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial (que abriga a mostra de fotografia de Nan Goldin), também acredita nas vantagens da competição entre as duas cidades e na entrada definitiva do país em um circuito internacional.
"Não é um sonho de verão. Uma das maiores felicidades do país é contar com duas cidades ativas, próximas e complementares como Rio e São Paulo. É por meio delas que o Brasil entra no mercado internacional", afirmou.
Marcos Lontra, curador do MAM-Rio, é mais céptico. "Ainda estamos longe de um circuito internacional, embora estejamos melhor que qualquer país da América Latina", disse.
Mas Lontra acredita na força da arte brasileira no exterior como fator importante para a visibilidade do país. "Quem produz artistas como Waltercio Caldas, Hélio Oiticica e Lygia Clark no mínimo desperta curiosidade no exterior."
"As artes contemporâneas desempenham hoje o papel que a arquitetura desempenhou há algumas décadas", complementou Lauro Cavalcanti, do Paço.
Paulo Herkenhoff, o curador da 24ª Bienal, concorda com que a repercussão da arte brasileira no exterior atue em uma mão dupla, mas ressalta também o papel dos patrocinadores nesse processo.
"Os patrocinadores já percebem seu papel, que não é o dos curadores. Eles compreendem que a arte pode ser usada como forma de promoção, embora confirmem as noções de grande arte que o público espera", disse.
Segundo o curador, quem fica desguarnecida nesses esquemas é a arte contemporânea, que deve contar então com o trabalho dos galeristas. "São nomes como Thomas Cohn, Paulo Fernandes, Luisa Strina e Marcantonio Vilaça que mostram que o país também pode trabalhar com o internacional contemporâneo", disse.

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