São Paulo, sábado, 22 de março de 1997
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Cúpula acaba sem acordo sobre Otan

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

EUA e Rússia não chegaram a um acordo sobre a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) após a conferência de cúpula entre seus presidentes, Bill Clinton e Boris Ieltsin, ontem em Helsinque, Finlândia.
Mas os dois se esforçaram para convencer os jornalistas de que a reunião foi um sucesso. "Nós concordamos em discordar" (sobre a Otan), disse Clinton, que realçou os pontos de acordo a que chegou com seu colega russo, em especial sobre redução dos arsenais nucleares dos dois países.
Ieltsin deu a Clinton garantias de que o Parlamento russo vai ratificar o acordo Start 2, assinado há quase cinco anos e ratificado pelo Congresso dos EUA. Quando isso ocorrer, começarão negociações para o Start 3, com o fim de reduzir em 80% as armas nucleares de EUA e Rússia.
Ieltsin foi mais sincero na avaliação das diferenças sobre a Otan: "Cresce uma situação potencialmente ameaçadora" (à segurança da Rússia). Ele concordou com o início imediato de reuniões entre seu governo e o comando da Otan para tentar se estabelecer "uma relação cooperativa" entre a organização (criada em 1945 pelos EUA para proteger seus aliados na Europa ocidental contra a ameaça militar da ex-URSS) e a Rússia.
Em princípio, essa cooperação consistirá na participação de comandantes militares russos nas reuniões de cúpula da Otan na condição de observadores.
Clinton disse que os planos de inclusão na Otan de Hungria, Polônia e República Tcheca, três países que estavam na órbita de influência da União Soviética até 1991, estão de pé conforme o programado.
Em julho, os três serão convidados formalmente a aderir à Otan, e até 1999 sua participação estará completada. A Rússia espera persuadir os EUA a não incluir ex-repúblicas soviéticas (como Lituânia, Letônia, Estônia, Ucrânia e Belarus, que se dizem interessadas em aderir à entidade).
Clinton concordou com a proposta de Ieltsin para que armas nucleares não sejam instaladas nos futuros países-membros da Otan.
Vários observadores, inclusive o presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski, consideram que o resultado da cúpula sobre a Otan significa na prática a concordância sob protesto da Rússia com a inclusão dos três países na entidade.
Contrapartidas
Entre as recompensas oferecidas por Clinton a Ieltsin por essa concessão está a mudança da denominação do encontro anual do grupo dos sete países mais ricos do mundo, o G-7, que, a partir de julho, quando se realizar em Denver (Colorado, EUA), passará a se chamar de "Cúpula dos Oito".
A alteração é apenas simbólica, embora Clinton tenha afirmado que "o papel da Rússia será substancialmente aumentado" na conferência. Desde 1991, a Rússia tem participado das cúpulas do G-7 como observadora. Ela reivindica ser admitida como associado ao grupo com direitos similares aos dos outros sete. Mas ainda não há consenso entre o G-7 sobre isso.
Outro bônus oferecido por Clinton a Ieltsin foi a promessa de "maximizar o apoio aos investimentos dos EUA na Rússia". O presidente russo negou com ênfase a insinuação de um jornalista de seu país de que a ajuda econômica norte-americana poderia suavizar sua oposição à expansão da Otan: "Não há nenhuma troca aqui".
Na entrevista que encerrou a parte pública da cúpula de ontem, Clinton pareceu cansado e abatido. Ele dá indícios de estar sentindo os problemas da recuperação da cirurgia no joelho direito a que foi submetido há uma semana.
Sobre a saúde de Ieltsin, que há seis meses convalesce de cirurgia cardíaca para implantação de pontes de safena e de uma pneumonia, Clinton disse: "Posso dizer que ele se sente bem e parece ótimo".

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