São Paulo, domingo, 23 de março de 1997
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Tombamento de bairro vira caso de polícia

ALEXANDRE LOURES
FREE-LANCE PRA A FOLHA

Nove meses depois de feito o pedido, o tombamento do Jardim da Saúde (zona sul de São Paulo) já virou até caso de polícia.
O motivo foi a circulação de um panfleto apócrifo (texto sem a assinatura do autor ou autores) que emitia opiniões contrárias ao tombamento e à mudança do zoneamento da região.
A Associação dos Moradores do Jardim da Saúde prestou queixa na 16ª DP (Distrito Policial) e pediu punição aos autores do material.
Segundo a arquiteta Mílvea Aracava, integrante da associação, o panfleto contém "informações falsas, que podem enganar e manipular a população".
O aparecimento do panfleto também provocou a realização de um debate público, no último domingo, que reuniu cerca de 300 pessoas, segundo os organizadores. Não houve manifestação contrária ao tombamento.
Indiferença
Apesar do engajamento da associação, os moradores do Jardim Saúde ainda não sabem de que trata o tombamento.
A maioria confunde a questão com a política de zoneamento municipal. Alguns ainda nem sabem da existência do processo.
A dona-de-casa Maria Eulália, 65, por exemplo, afirma que ainda não leu nada a respeito.
"Só ouvi alguns comentários, mas não entendi nada. Mas, se é para colocar o governo no meio, sou contra."
Outra dúvida comum é em relação às mudanças que o tombamento acarretaria. Um comerciante, que não quis se identificar, teme que as novas medidas restrinjam o comércio no bairro.
A associação de moradores afirma, porém, que cerca de 98% dos habitantes do bairro são favoráveis ao tombamento da área.
"Quase todos apóiam a idéia. E os que são contra não se manifestam abertamente", afirma Mílvea.
Histórico
A associação dos moradores do bairro entrou com pedido de tombamento do Jardim da Saúde em junho do ano passado, junto ao Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio).
"As regiões próximas estão sendo degradadas com a construção de prédios. Temos de evitar que isso aconteça aqui", diz Mílvea.
O Conpresp acatou o pedido e iniciou estudos mais aprofundados até a tomada da decisão final.
A associação de moradores também pediu à Câmara Municipal o rezoneamento do Jardim da Saúde, que deixaria de ser considerado Z-2 (zona predominantemente residencial com verticalização moderada e pequenos núcleos de comércio) para se tornar Z-1 (zona exclusivamente residencial e horizontal).

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