São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 1997
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Mãe viciada teve o filho na cadeia

DA REPORTAGEM LOCAL

O garoto M.M.B., 16, nasceu dentro da cadeia. A mãe cumpria pena por furto e era viciada em drogas. O pai, com quem quase não conviveu, "tenho vergonha de dizer, mas era ladrão."
Seus dois primeiros anos de vida foram dentro da Febem. "Aí minha madrinha e minha avó conseguiram me tirar de lá."
Quando a mãe saiu da cadeia, foi buscá-lo, e foram morar juntos na periferia de São Paulo.
"Ela estava bem, estava trabalhando, mas logo depois voltou a usar drogas", relata.
Nessa época, M.M.B. frequentava a escola e diz que era bom aluno, "graças a Deus". Passou alguns anos acompanhando o vício da mãe. "Ela começou com cocaína e depois passou a fumar crack."
Ele conta que aos 12 anos resolveu experimentar a droga. Largou os estudos na 5ª série e não parou mais de fumar.
Em poucos meses, conseguir crack passou a ser sua principal atividade. Frequentava cada vez mais a rua, descobrindo os pontos de tráfico, até resolver mudar de vez para o Centro. "Era o meio mais fácil de conseguir drogas."
Ele diz que chegou a fumar mais de dez pedras por dia. Para sobreviver, pedia esmola nos faróis.
"Quando conseguia um dinheiro extra, dormia em algum hotel da região." Na verdade, espeluncas que aceitam menores de idade, segundo ele, cobrando cerca de R$ 10 a noite.
"Eu tentei sair das drogas, cheguei a trabalhar no SOS Criança. Mas fiquei com saudades dos meus amigos e acabei voltando."
Para a casa da mãe, ele não quer retornar. Diz que sente saudades dela, mas prefere viver no SOS Criança, "pois posso ter um tratamento melhor".
M.M.B. não usa crack desde que chegou ao SOS Criança, há cerca de um mês. Frequenta os cursos da entidade e ajuda os funcionários a cuidar das crianças menores.
"Ele é um menino carinhoso e especial", disse uma funcionária do SOS Criança que não quis se identificar. Enquanto conversava com a reportagem do Folhateen, M.M.B foi várias vezes interrompido por um grupo de crianças que o abraçavam.
Ele se expressa bem, com voz infantil. "Estou fazendo cursos de datilografia e computação, pretendo voltar à escola e ser alguém na vida."

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