São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 1997
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Garoto é baleado depois de sair no jornal

SILVIA RUIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois dias depois de aparecer em sequência de fotos na capa da Folha sendo agredido por um policial militar, M.M.B., 16, volta a ser vítima da PM. Dessa vez, com tiros.
O garoto é infrator e viciado em crack. Para ele, os dois tiros que levou nas pernas teriam sido em represália à publicação das fotos. "Acho que eles sabiam quem eu era", diz M.M.B. A polícia abriu inquérito para investigar o caso.
O garoto está, há um mês, em uma das unidades do SOS Criança. "Os fatos são reais, existe um B.O., existe um hospital, então são verídicos. O menino que foi agredido é um menino gente boa, que está superbem aqui, fazendo curso de computação, datilografia", diz o coordenador da entidade, Paulo Vitor Sapienza.
Tiros na rua
M.M.B. conta que no dia 2 de fevereiro (domingo), por volta das 11h, ele e alguns amigos estavam sentados ao lado da agência do Banco Real, na rua Pedro Américo (região central de São Paulo).
"A gente estava usando crack, quando a viatura parou com tudo e nós saímos correndo. Foi quando o policial saiu atirando, atingindo a minha coxa direita e a minha canela esquerda, e eu caí."
Ele diz que ouviu três tiros. "Primeiro ele atirou para cima e depois atirou para cima de mim."
M.M.B. diz que os PMs o levaram para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Ele passou por cirurgia para a colocação de dois pinos na perna esquerda.
Segundo a assessoria de imprensa do hospital, o menino chegou com fratura exposta na perna esquerda e ferimento na coxa direita.
O garoto ficou 11 dias na Santa Casa e conta que foi levado para a casa da mãe, na periferia da zona oeste de São Paulo, por uma assistente social do hospital. Passou uma semana em casa.
"No dia 20, saí para passar por uma consulta no hospital. Depois eu iria ver meus amigos na rua e procurar o SOS Criança."
Segundo ele, reencontrou os amigos e acabou a noite na rua, fumando crack. No dia seguinte, outros policiais o encontraram no Centro e o levaram ao SOS.
Sapienza teme não apenas pela segurança de M.M.B. como da própria entidade que coordena. Segundo ele, há setores da sociedade que não aceitam a forma de atuação do SOS.
"Há pessoas que dizem: 'A gente leva as crianças para o SOS, e elas estão na rua outra vez'; mas é assim mesmo, não se tira criança da rua do dia para a noite, ninguém vai querer trancar a criança, agredindo ela mais ainda", diz.

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