São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 1997 |
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Jornalista expõe o "mercosul" do crime
RODRIGO BERTOLOTTO
Assim o jornalista argentino Hernán López Echague define a região da tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, onde esteve por três meses com a identidade encoberta levantando dados. O resultado desse trabalho se transformará no livro "A Fronteira", a ser publicado no final do ano na Argentina, prometendo detalhes sobre o tráfico de drogas, armas e meninas prostitutas na região, entre outros assuntos. "Vou dar nome e sobrenome dos policiais corruptos e dos grandes comerciantes metidos no crime organizado", afirma López Echague. Seu guia entre as pontes e as alfândegas foi um garoto paraguaio de 17 anos, de nome Ramiro, que mora em uma pick-up abandonada e trabalha como passador. "Com Ramiro atravessei a fronteira 200 vezes, e só me pediram documentos em duas oportunidades", disse em entrevista. Falso romancista O garoto deixava semanalmente 250 gramas de cocaína nos postos alfandegários para que os policiais fizessem vista grossa. Dessa maneira, Ramiro atravessava o controle com sua malinha cheia de pistolas e cocaína. "Ele aparece várias vezes no livro, sendo o fio condutor do relato", afirma o jornalista. Falso romancista López Echague fingiu ser um romancista para conseguir se infiltrar na vida cotidiana de Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Puerto Iguazú. Se perguntado, dizia que estava escrevendo uma história de amor ambientada na região e permanecia ali para captar a realidade local. "Uma vez, falei a um taxista que precisava saber como se contrata um justiceiro, porque no meu livro um marido traído encomendava a morte da mulher. Ele me deu todo o serviço", disse. Dessa mesma maneira, se aproximou dos chefes do comércio local, geralmente de origem árabe ou chinesa (leia texto nesta página). Também investigou o tráfico de prostitutas, a maioria menores de idade e universitárias arregimentadas no interior paranaense. O ponto de partida seriam as boates Sex Appeal e Piova, localizadas em Foz do Iguaçu. Os preços de seus serviços variam de US$ 500 a US$ 1.000. Esse último valor é pago pelos comerciantes de religião muçulmana. Segundo o autor, "eles pagam mais pelo silêncio da prostituta do que por seu sexo. Se a relação for descoberta, ele será marginalizado dentro da comunidade". A situação é diferente para as profissionais do lado argentino. Na empobrecida Puerto Iguazú, elas cobram de US$ 30 a US$ 50 por programa -seus clientes são geralmente os caminhoneiros. Carros blindados Em seu livro, López Echague denuncia a participação de empresas de transporte de dinheiro no tráfico de armas e drogas. "Vi carros blindados de companhias paranaenses carregando várias vezes ao dia em pequenos comércios em Ciudad del Este, levando-as para o Brasil." Fachada A movimentação comercial das lojinhas não seria compatível com a quantidade de visitas do carro blindado. "Os produtos eletrônicos são apenas fachada para a venda de cocaína e armas nos pequenos estabelecimentos", afirma. Segundo ele, os cerca de 500 taxistas brasileiros de Foz também servem de meio de transporte para a entrada de drogas ao Brasil. "Se disser que está colocando no porta-malas algo perigoso, os taxistas cobram US$ 200", diz. López Echague prossegue, afirmando que "se não for perigoso, pedem US$ 100 para cruzar a alfândega, o que fazem apenas dando um sinal para os agentes." O jornalista mandava todas as noites fax para sua mulher em Buenos Aires, relatando o que fez no dia e o que faria no seguinte. "Foi uma medida de segurança. Assim, se me acontecesse alguma coisa, ela teria alguma pista de meu paradeiro." Texto Anterior: Presidente reaparece e prega o combate Próximo Texto: Autor morou em São Paulo Índice |
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