São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 1997
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Arte e saber fazem sua escala na capital

SILVIO CIOFFI

do enviado especial a Viena
A história da Áustria e, particularmente, de Viena nem sempre se passou entre valsas e doces, mas forjou alguns dos intelectos mais expressivos da arte e do pensamento ocidentais.
As contribuições vão, principalmente, da música dos séculos 18 e 19 à psicanálise de Sigmund Freud.
Freud, aliás, foi um austríaco que encontrou refúgio no Reino Unido em 1938, ano em que Viena -então com 200 mil judeus entre seu 1,8 milhão de habitantes- foi anexada pelos nazistas.
Leia a seguir notas biográficas de personagens ilustres que têm suas vidas ligadas à capital austríaca e, uma vez em Viena, descubra as marcas de sua passagem:
Joseph Haydn (1732-1809), autor de extensa e variada obra instrumental, morreu em Viena e teve sua glória -universal no século 18- eclipsada pelos legados musicais de Mozart e Beethoven.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) nasceu em Salzburgo, a 298 km de Viena, e mudou-se para a capital do império aos 26 anos. Aos cinco anos, o gênio que brindou a música com "A Flauta Mágica" já tocava para cortes européias. Aos 12, escreveu sua primeira sinfonia. Apesar do sucesso que alcançou em vida, Mozart morreu na miséria.
Ludwig van Beethoven (c.1770-1827), um dos maiores compositores do século 19, era originário de Bonn, na Alemanha, mas, de origem humilde, encontrou seu mecenas em Viena, onde morreu. A surdez o isolou do mundo, mas não impediu que Beethoven fosse glorificado em vida por sua obra, classificada entre o classicismo e o romantismo.
Franz Schubert (1797-1828), que faria 200 anos neste ano, nasceu e morreu em Viena. Considerado um precursor de Brahms, produziu obra musical de extraordinária fecundidade.
Johann Strauss (1804-1849), o pai, também nasceu e morreu na capital austríaca. Foi um ídolo nacional que compôs marchas e valsas que ficaram conhecidas com os nomes dos lugares onde foram executadas pela primeira vez.
Já seu filho, o também vienense Johann Strauss 2º (1825-1899), foi ainda mais famoso. Entre as 150 valsas de sua autoria está "No Belo Danúbio Azul", de 1867.
Johannes Brahms (1833-1897) nasceu em Hamburgo, na Alemanha, mas morreu na capital austríaca, onde se radicou em 1863. Considerado um representante do classicismo vienense, Brahms teve seu talento musical reconhecido por Schumann quando tinha 20 anos e tocava em tabernas.
O compositor Gustav Mahler (1860-1911) nasceu na Boêmia, atual República Tcheca, e morreu em Viena, com a fama de ter sido um dos maiores regentes de todos os tempos. Dirigiu a Ópera de Budapeste, foi regente em Hamburgo e Nova York, além de diretor da Ópera Imperial de Viena. Criou um novo tipo de sinfonia, com participação da voz humana.
Mais recentes e controvertidos são os trabalhos musicais dos vienenses Berg, Webern e Shoenberg.
Alban Berg (1885-1935) e Anton Webern (1883-1945), da escola de Schoenberg, foram responsáveis pelo amadurecimento da música atonal no século 20. Já o próprio Arnold Schoenberg (1874-1951) é considerado o fundador da escola musical moderna de Viena.
Seus concertos não raro acabavam em escândalos, com ouvintes indignados. Até ser expulso pelos nazistas, foi professor da Academia de Música de Berlim. Mestre do dodecafonismo, morreu em Los Angeles. Em sua fase atonal, Schoenberg exprime, na música, preocupações do expressionismo.
O pintor e escritor austríaco Oscar Kokoshka (1886-1980), um dos grandes artistas do século, morreu na Suécia e foi um viajante inveterado. Dono de um estilo expressionista bastante pessoal, morou em Dresden, na Alemanha, até que, em 1938, fixou-se em Londres, adotando nacionalidade britânica.
O filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) nasceu em Viena e, como Kokoshka, viveu no Reino Unido. Participou da Primeira Guerra Mundial como soldado e, em 1926, construiu em Viena uma casa funcional que influenciou os neopositivistas. Fixou-se em Cambridge e, depois de 1929, lecionou no Trinity College.
Otto Wagner (1841-1918), um dos líderes e fundadores da escola moderna da arquitetura européia, também tem seu nome ligado a Viena e a diversas obras de inspiração art nouveau.
O pintor Gustav Klimt (1862-1919) nasceu e morreu em Viena, onde frequentou a Escola de Artes Figurativas e abriu, em 1883, estúdio especializado em pintar murais. Suas pinturas maduras apareceram depois de 1897. Contra a arte acadêmica, Klimt fundou o grupo Sezession e dedicou-se a um estilo decorativo contemporâneo ao art nouveau.
Karl Kraus (1874-1936) nasceu na Boêmia e morreu em Viena. Escritor de expressão satírica essencialmente vienense, escreveu poesia e traduziu Shakespeare.
O filósofo Karl Popper (1902-1994) foi outro que nasceu na capital austríaca. Estudou na Universidade de Viena e, depois, na Nova Zelândia. Cidadão britânico desde 1945, lecionou na London School of Economics no período 1949-69. O filósofo da ciência estendeu suas idéias à política e se tornou teórico do liberalismo.
Também austríaco foi Ferdinand Porsche (1875-1951), o engenheiro mecânico que, em 1934, criou a pedido do ditador nazista Adolf Hitler -também ele nascido na Áustria- o Volkswagen (carro do povo).
Porsche fez veículos militares durante a Segunda Guerra Mundial e trabalhou para a Daimler-Benz. A indústria de carros esportivos que leva seu nome foi fundada em 1950.
Stefan Zweig (1881-1942), biógrafo, novelista e poeta nascido em Viena, suicidou-se em Petrópolis (RJ). Fugindo do nazismo, esse escritor, cuja popularidade vem de suas biografias romanceadas, exilou-se em Londres já em 1934.
Viveu em Nova York e, em 1941, escreveu "Brasil, País do Futuro". No livro "Morte no Paraíso", o jornalista Alberto Dines descreve a saga de Zweig.
Sigmund Freud (1856-1939), o pai da psicanálise, nasceu na Morávia e viveu em Viena dos 4 aos 82 anos de idade. Sua casa por quase cinco décadas, na Berggasse, é hoje um museu. Em 1938, Freud fugiu para Londres, onde morreu no ano seguinte.
Friedensreich Hundertwasser (1928) é um artista plástico e arquiteto que tem mudado a cara de Viena. A famosa Casa Hudertwasser, na esquina da Loengasse e Kegelgasse, de formas assimétricas e pintada em tons de amarelo, rosa e azul, é um de seus prédios polêmicos. Há quem chame essa obra, que funde romantismo e modernidade, de "a catedral kitsch".
O estadista vienense Bruno Kreisky (1911-1990) foi um líder social-democrata que chefiou o governo austríaco, no período 1970-83, e presidiu a Internacional Socialista.
Estudou direito e economia na Universidade de Viena e, em 1936, foi preso por sua militância política. De origem judaica, Kreisky foi perseguido pela Gestapo e, depois de 1938, viveu na Suécia. Voltou à Áustria no início dos anos 50 e, como político, apoiou os palestinos.
Kurt Waldheim (1918), diplomata e político austríaco, foi secretário-geral da ONU e presidente de seu país. Elegeu-se mesmo depois da divulgação, em 1986, de suas atividades como oficial do Exército nazista nos Bálcãs. Sua biografia anterior dizia que Waldheim havia, no mesmo período, estudado direito em Viena.

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