São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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Amazonas transporta soja do Centro-Oeste

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

No dia 21 de abril chega a Itacoatiara (AM) o primeiro navio graneleiro que levará soja da cidade para o mercado internacional.
O evento inaugura a primeira rota nacional de exportação de soja da região Norte.
O porto de Itacoatiara (270 km a oeste de Manaus) será administrado pela Hermasa, empresa de capital misto, com controle acionário do Grupo Maggi (53%) e participação do governo do Amazonas (47%).
Ainda em 97, o porto deverá exportar 300 mil toneladas de soja (5% da previsão de exportação do país), vinda do norte do Mato Grosso.
O porto custou R$ 54 milhões. Foi pago pelo governo do Amazonas (R$ 12 milhões) e pela empresa de navegação Hermasa, do grupo graneleiro Maggi (R$ 16 milhões). Mais R$ 24 milhões foram financiados pelo BNDES.
O terminal de embarque é todo automatizado, alfandegado e fiscalizado pela Receita Federal e Polícia Federal. Tem silos com capacidade para estocar até 90 mil toneladas de soja.
A previsão é que o porto barateie em US$ 30 cada tonelada de soja exportada, em relação aos portos de Santos e Paranaguá, usados atualmente.
Em Itacoatiara também não haverá fila de espera. Na última safra, os produtores tinham de esperar em média 12 dias para embarcar a soja em Santos e sete dias em Paranaguá.
Novos caminhos
O porto graneleiro de Itacoatiara iniciou suas operações, em caráter experimental, em março.
Pela nova rota, a soja produzida na região Centro-Oeste segue para Porto Velho (RO) em caminhões, pela BR-364.
Em Porto Velho os grãos são embarcados em comboios de balsas.
Essas balsas seguem pelo rio Madeira até o rio Amazonas, onde a soja é descarregada no porto de Itacoatiara.
A movimentação das balsas pelo rio é monitorada por computadores, em uma sala de comando, com informações obtidas via satélite.
Para isso, o governo do Amazonas investiu US$ 1,3 milhão na elaboração da carta eletrônica do rio Madeira, o que possibilitará a navegação durante dia e noite.
Em Itacoatiara, os grãos serão embarcados para o exterior em navios greneleiros, com capacidade para estocar até 90 mil t de soja.
Entre os compradores que já acertaram a compra da soja pela nova rota estão a Cargill e o grupo Sumitomo, os maiores compradores mundiais de soja.
"Eles depositaram um voto de confiança em nosso investimento", diz Blairo Maggi, vice-presidente do Grupo Maggi.
Fronteiras agrícolas
Para o governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PPB), o porto ajudará a gerar empregos em Itacoatiara.
Esse projeto, entretanto, tem esbarrado nas dificuldades de transporte existentes no Amazonas, que tem poucas estradas e é distante dos grandes centros.
Segundo Maggi, a nova rota deverá revolucionar a agricultura do Norte do país.
"Vamos viabilizar a fronteira agrícola de Rondônia, praticamente inutilizada pelo alto preço do escoamento da produção", diz.
Maggi também pretende investir na compra de terras em municípios pelos quais passa o rio Madeira, como Humaitá (AM), que deve se tornar uma nova fronteira agrícola.
Maggi afirma que já tinha o projeto de exportar soja pela bacia Amazônica desde 89, mas nunca tinha conseguido a adesão de sócios.
"Agora resolvi fazer tudo sozinho, contando com a ajuda do governo do Amazonas na construção do porto. Se der lucro é nosso. Se der prejuízo também", diz.
Maior produtor
Desde o ano passado, o Grupo Maggi é o maior produtor de soja do país, com 40 mil ha plantados.
Em 97, Maggi pretende colher 100 mil t de soja, um aumento de 8,6% sobre as 92 mil t colhidas em 96.
O grupo também está entre os maiores comerciantes e exportadores de soja, com 600 mil t comercializadas no ano passado. Este ano, pretende vender 700 mil.
O Grupo Maggi exportou 200 mil t em 96 e, com o novo porto, pretende exportar 420 mil t em 97.
O Brasil é hoje o segundo maior produtor e exportador de soja do mundo, atrás dos EUA. Foram produzidas 23,5 milhões de t em 96, e a colheita de 97 está estimada em 26,5 milhões de t.

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