São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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Para Franco, crescer 10% ao ano é inviável

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

O diretor da área externa do Banco Central, Gustavo Franco, disse que o Brasil não pode crescer a taxas muito altas, como 10% ao ano. Para ele, "as condições têm que ser recompostas" e há problemas até de logística para sustentar o crescimento.
Ao falar no almoço da assembléia anual do Instituto Atlântico, na Maison de France, no centro do Rio, Franco disse que "é idiotice" achar que o Brasil só não cresce a essas taxas "porque a taxa de câmbio está errada ou alguma besteira desse tipo".
Para ele, "prevalece uma certa noção de que o Brasil é o mesmo que era na década de 70, pronto para correr a maratona a despeito de ter tido câncer durante dez anos", referindo-se à inflação alta. Franco diz que "alguma convalescença tem que ser cumprida".
"Ficamos durante quase duas décadas afundados em processo de hiperinflação, que é uma doença muito séria, debilitou nossa saúde econômica de forma muito importante."
Ele disse que "tudo tem que estar em dia para crescer". Deu como exemplo de dificuldade para o crescimento o aumento da capacidade portuária, que é igual há três anos, quando o comércio exterior dobrou nesse período.
"Imagina como será o problema da energia elétrica, tendo ficado o país tanto tempo sem investir em novas usinas", diz ele, acrescentando que esses são problemas "próprios do desenvolvimento".
Franco disse que são poucos os países que cresceram 10% ao ano por um período prolongado. Para ele, são países que têm "combinação incomum de fatores favoráveis" que permitem o crescimento.
Entre esses fatores, ele inclui o capital estrangeiro, finanças públicas, estrutura do emprego, qualidade da mão-de-obra. Franco acha que o Brasil vai conseguir chegar a essas taxas de crescimento, mas não é "em um primeiro momento". Para ele, "não será rápido, nem será fácil chegar lá".
Franco diz que não se deve achar que o crescimento está sendo limitado por fatores de curto prazo que seriam fáceis de remover. Ele referia-se à taxa de juros e ao câmbio.
No entender de Franco, para financiar esse desenvolvimento é necessário que o Brasil mantenha déficits em conta corrente. Para ele, "o superávit em conta corrente era doente".
"É bastante comum que uma economia emergente tenha déficits em conta corrente", diz Franco. Para ele, no caso brasileiro, a principal razão é a necessidade de investimento alto sem ter dentro do país a poupança necessária para tocar esses investimento.
"Não significa que tenhamos que ter números grandes. Tem que ser uma questão de tomar o vinho sem se embriagar com ele", disse.

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