São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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"Rapina" descreve falcatruas do mercado

DENISE MOTA
DA REDAÇÃO

"Rapina" descreve falcatruas do mercado
Um sequestrado, acostumado a perpetrar golpes milionários na Bolsa de Valores, acaba denunciando as estratégias de seus colegas de mercado financeiro -e relações de corrupção que envolvem desde simples operadores até o governador do Estado- para salvar a própria pele.
Qualquer semelhança com esquemas de corrupção brasileiros, numa trama com tom de "Wall Street", filme de Oliver Stone, não é mera coincidência.
Essa é a história de "Rapina", filme que está sendo produzido pelo publicitário Mauricio Oliveira e é baseado em livro homônimo do ex-operador da Bolsa de Valores Ivan Sant'Anna, lançado em 96.
Para levar a história às telas, Oliveira, 44, fotógrafo que trabalhou em publicidade por 20 anos, quer imprimir agilidade e qualidade técnica à trama.
"É um tipo de cinema moderno, com uma linguagem mais norte-americana, que é o caminho do cinema brasileiro. Não temos dinheiro nem know-how para fazer filmes de época", disse.
O diretor ainda afirma não ter pretensão de fazer de "Rapina" um filme de arte. "Busco uma linguagem competitiva, um filme que as pessoas queiram ver, porque bilheteria é importante."
Na trama, Carlos Vereza será o ex-funcionário da Bolsa que se associa aos sequestradores para entrar em contato com empresários e banqueiros, a fim de coletar US$ 10 milhões, o valor do resgate.
Ary Fontoura vai interpretar Eriosvaldo Matos, o sequestrado. José Wilker é Phillipe D'Auvignois, ativo participante das falcatruas planejadas por Matos.
Galo Cego, o mentor intelectual de todo o sequestro -gerente de boca de fumo no morro do Borel, no Rio de Janeiro-, será interpretado por Norton Nascimento.
Personagens femininos, como Sarita (a mulher de Phillipe e amante de Barroso), ainda não estão definidos.
"Existem 52 personagens na trama, alguns deles muito importantes, mas que aparecem apenas uma vez. Mesmo assim, preciso encontrar atores fortes para interpretá-los", diz o diretor, que pretende fechar todo o elenco até o final do mês.
Denúncia
O enredo de "Rapina" envolve bancos, companhias de planos de saúde e autoridades governamentais fictícias, mas que sugerem nomes de instituições verdadeiras.
O livro conta como são feitas algumas operações irregulares do mercado, já familiares aos brasileiros que acompanham casos como a CPI dos títulos públicos.
Apesar de descrever o Estado e a área de atuação de bancos e de conferir a uma companhia de plano de saúde o nome de "Croix d'Argent", por exemplo, Sant'Anna escreve, na introdução de seu livro, que qualquer semelhança com empresas reais não passa de uma "notável coincidência". Oliveira faz coro ao dizer que a obra toda não passa de ficção. "Não estou associando nada a ninguém."
Mesmo sem nenhuma intenção alegada de denúncia, o filme está enfrentando dificuldades para conseguir patrocinadores. Apenas um banco (Oliveira prefere não revelar o nome) se interessou.
"Acho que seria até uma grande jogada de marketing. O que acontece é que aqui no Brasil nunca se fez um filme que mexesse com possíveis patrocinadores. Se nenhum banco patrocinar, vai se verificar que qualquer desconfiança que o filme possa levantar talvez tenha mesmo fundamento", diz.
O longa-metragem, orçado em US$ 4 milhões, terá locações em São Paulo, Rio, Nova York e Flórida. "Rapina" começará a ser rodado no mês de junho.
Para filmar as cenas de ação, Oliveira vai contar com o trabalho de técnicos contratados em Los Angeles (leia abaixo). "Cena de ação no Brasil é roda freando e pessoa caindo. Primeiro, a gente tem que aprender a fazer cinema, depois pensa em fazer filme de arte."

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