São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997 |
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CAIXAS DO POPULISMO A demissão de toda a diretoria do Telos, o fundo de pensão dos funcionários da Embratel, que abrigou em sua carteira de investimentos R$ 45 milhões em títulos das prefeituras de Osasco e São Paulo e do governo catarinense, tem um significado mais amplo do que se comentou até agora. A atitude do ministro Sérgio Motta recoloca em evidência uma suspeita que não é nova: a de que a gestão dos fundos de pensão de estatais obedece a critérios duvidosos. A dúvida refere-se não apenas ao retorno dos investimentos, mas à própria capacidade dessas entidades honrarem os interesses dos seus cotistas. A não ser que suponham infinita e indiscutível a generosidade do governo federal, que contribui para a sustentação dessas instituições. O fato do Telos ter investido em títulos que hoje estão sob suspeita dá margem a outro tipo de considerações, que aliás compete à CPI dos Precatórios aprofundar, sobre o envolvimento de órgãos estatais e paraestatais no financiamento de governos e, suspeita-se, de esquemas ilícitos de financiamento eleitoral. É a decisão mesma do ministro -demitir "ad nutum" a diretoria- que coloca a nu o caráter político da administração desses fundos. Ou seja, a demissão torna evidente a raiz do mal, que é a existência de organismos financeiros híbridos, os quais atendem a um grupo específico mas integram o raio de ação política do governo federal, alimentados por um sistema de finanças públicas que inspira graves preocupações. O populismo e o corporativismo estão sendo exibidos atualmente numa de suas faces mais perversas: a apropriação de recursos públicos para fins privados ou para a sustentação de variadas claques políticas. É mais um dos caixas que alimentam um modelo falido de Estado. A demissão não se esgota em si mesma. É fundamental restringir os fundos de pensão àquilo que realmente devem ser: previdência de funcionários, aos quais cabe o ônus de poupar para o futuro. Pelas regras atuais, prosperam vícios à sombra dos fundos de pensão das estatais. Texto Anterior: PEDALAR PARA O FUTURO Próximo Texto: CADEIA SEM PRIVILÉGIO Índice |
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