São Paulo, terça-feira, 25 de março de 1997
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Acareações falsas

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Está cada vez mais claro que os momentos mais divertidos da CPI dos Precatórios, as acareações, foram uma fraude.
Os envolvidos combinaram tudo com grande antecedência.
A CPI encontrou um bilhete datado de 12 de dezembro passado, de Fábio Nahoum, dono do Banco Vetor, para seu sócio Ronaldo Ganon.
Apenas nove dias depois da instalação da CPI, Nahoum se preparava para os depoimentos. Algo muito justo. Acima de tudo, um direito de qualquer pessoa que está sob suspeição.
Em trecho de sua mensagem, Nahoum sublinha a palavra "nunca". No caso, queria que o secretário da Fazenda de Pernambuco, Eduardo Campos, nunca se esquecesse de manter a versão sustentada pelo banqueiro para o primeiro contato entre ambos.
Mais adiante, o bilhete de Nahoum versa sobre Wagner Baptista Ramos, ex-funcionário da Prefeitura de São Paulo e tido como o principal técnico do esquema.
Nahoum dizia que era "fundamental" Ramos reunir-se "com os dois sócios" da Perfil -a empresa responsável pelos contratos de serviços entre o ex-funcionário da Prefeitura de São Paulo e o Banco Vetor.
Bastaram esses trechos do bilhete para que um experiente técnico da CPI dissesse: "É uma bomba. Está comprovado que essas pessoas estão associadas. E que só contaram no Senado a parte da história que não os compromete".
Nahoum, é claro, tem explicações diferentes. "Não tem nenhum pedido de sacanagem", diz.
O juízo de valor sobre o fato poderá ser tomado apenas mais adiante. Mas é evidente que o bilhete comprova que as pessoas citadas no caso se falavam com frequência. E acertaram os ponteiros antes de depor à CPI.
O bilhete é, no mínimo, um indício fortíssimo de que muita gente mentiu na CPI. Os senadores estão próximos de saber quem foi.
A resposta virá em breve, quando forem identificados os destinatários finais, e reais, dos lucros do esquema.

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