São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 1997
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Primeira-dama, só a de baile gay de Carnaval

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Quando os acionistas de alguma grande empresa elegem o "board of directors", por acaso fica automaticamente estabelecido que as mulheres dos executivos eleitos passarão a ocupar, ainda que em caráter honorário, cargos dentro da empresa? Claro que não.
Pois me diga você, ó leitor sensato: por que cargas d'água somos obrigados a aturar a mulher do prefeito Celso Pitta na condição de figura pública? O que capacita uma ex-corretora de imóveis e ex-distribuidora de frangos para restaurante a presidir, sem concurso prestado, uma entidade filantrópica de um município como São Paulo?
A figura da primeira-dama é a evidência maior de que, aos olhos do poder, lugar de mulher ainda é na cozinha. Jacqueline Kennedy, que não usava a cabeça só para dependurar chapéu, estava coberta de razão. Jackie odiava ser chamada de "first lady". Dizia que o título mais parecia nome de cavalo de corrida.
"Se eu for parar num presídio, nem assim acabarão comigo, pois vou trabalhar na recuperação dos presidiários". Vindo de uma entregadora de frangos sem vínculo com o poder público, a frase seria inócua. Mas, quando parte de dona Nicéa Pitta, presidente de honra do Centro de Apoio Social e Atendimento, das duas uma: a gente tranca ela no armário de vassouras da área de serviço do parque D. Pedro ou tira a prova. Alô, dona Nicéa! Que tal colaborar com a Campanha da Fraternidade e se internar por uma semana num distrito policial superlotado?
Está mais do que provado: primeira-dama só dá pé em baile gay de Carnaval.
Dona Ruth Cardoso não seria mais útil se tivesse continuado a exercer as funções da época anterior à posse do marido? E Rosane Collor teria metido as patas na verba da LBA se não fosse primeira-dama?
Pessoalmente, perdi todo e qualquer respeito pelo título anos atrás, em uma festa na boate Gallery, em que dona Dulce Figueiredo era a convidada de honra. Assim que entrou no nightclub, deslumbradérrima, ela se debruçou para cumprimentar um bando de ditos socialites sentados a uma mesa. Foi quando o decorador Sig Bergamin quis mostrar aos amigos sua intimidade com a primeira-dama e lhe aplicou um beliscão no traseiro. Em vez de o mundo vir abixo, a mulher do presidente Figueiredo se virou e caiu na risada.

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