São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Árbitros declaram guerra aos 'jogadores intocáveis'

VALMIR STORTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Antes que a fama transforme alguns jogadores em "intocáveis", a comissão de arbitragem da Federação Paulista de Futebol vai tomar previdências para evitar que o desrespeito aos juízes vire praxe.
Pelo Paulista-97, no dia 9, Djalminha peitou, literalmente, o árbitro Sidrack Marinho na partida do Palmeiras contra o Corinthians.
No dia 22, foi a vez do zagueiro são-paulino Válber dar um empurrão, pelas costas, no juiz Sálvio Spínola, no jogo contra o América.
Por não ter punido Válber, o árbitro Sálvio Spínola será convocado pela comissão de arbitragem para uma "reunião".
"A orientação que damos aos árbitros é para que eles sejam enérgicos. Se alguém deixa um jogador tomar conta do jogo, nós o chamamos e deixamos de escalá-lo por uma ou duas rodadas", disse Abel Barrozo Sobrinho, 65, membro da comissão de arbitragem.
"O Sávio vai ser chamado, e vamos conversar com ele", disse.
A decisão sobre quando ocorrem os excessos é tirada a partir do relatório do observador, a pessoa designada para fazer um relatório do desempenho do árbitro.
"Esse é o nosso termômetro", diz Barrozo.
Acima da lei
A impunidade dos jogadores não é um problema apenas de São Paulo e também não se limita aos gramados. Se estende aos tribunais.
O caso que mais atenção chamou neste mês foi a troca de pontapés entre Romário e Cafezinho, no jogo Flamengo x Madureira.
Cafezinho chutou Romário, que devolveu a agressão. Cafezinho foi expulso, Romário, não.
Ao ver o lance na TV, o procurador do Tribunal da Federação do Rio de Janeiro Fernando Nicmacher indiciou tanto Romário, pela agressão, quanto o juiz Jorge Luís Cairus, por não tê-lo expulsado.
O julgamento deu em nada, e Romário foi absolvido. A alegação foi de que deveriam ter sido mostradas as imagens gravadas pelas TVs, já que a súmula da partida não fazia menção aos revides de Romário. Mas Cafezinho foi suspenso, como deveria. A impressão que ficou é que a "marca Romário" era que estava em julgamento.
Na partida contra o Fluminense, o zagueiro Júnior Baiano, do Flamengo, também não foi expulso ao dar um tapa no rosto do volante Cadu. Na Alemanha, foi suspenso por dez jogos por ato semelhante.
"É errado punir um jogador desconhecido e não punir outro porque é mais famoso. O critério tem que ser o mesmo para todos", diz Abel Barrozo.
E a FPF parece ter bons exemplos a mostrar para a imparcialidade exigida. Na partida Palmeiras x Portuguesa Santista, o goleiro Ivan foi expulso por retardar a reposição de bola, a famosa cera.
Na semana seguinte, foi a vez de o goleiro Velloso, do Palmeiras, ser expulso pelo mesmo motivo, contra a Inter de Limeira.
"O Velloso não permitiu que um jogador cobrasse um impedimento e levou o amarelo. Depois, demorou para fazer a cobrança: foi expulso", diz Abel Barrozo.

Texto Anterior: Hora de definir
Próximo Texto: Conaf vê punição distinta
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.