São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 1997 |
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Rede Bice difunde hábito de fazer reservas
CRISTIANA COUTO
Inaugurada no dia 14 de fevereiro no Itaim, a 21ª casa da rede atende, por dia, cerca de 600 pessoas, entre almoço e jantar. Com 70% dos lugares da casa destinados a reservas -que chegam a ser feitas com até cinco dias de antecedência-, o Bice marca pontos contra e a favor do costume paulistano de sair para comer fora. A maioria dos restaurantes famosos de São Paulo faz reservas não como regra, mas como alternativa para os clientes. Para Rogério Fasano, dono dos restaurantes Fasano e Gero, além de oferecer comodidade ao cliente, a reserva incorpora o conceito de requinte. "Antes, era antipático reservar mesa. Com a melhora do nível dos restaurantes e a quantidade de chefs que trouxeram o conceito, não é mais assim." Longe da sofisticação do Fasano e funcionando na mesma quadra, o Gero, mais despojado, chega a ultrapassar uma hora de espera. Sem reservar mesas, a informalidade da casa e o bar lotado fazem supor que, às vezes, vale esperar. "Fico no bar bebendo e conversando, porque isso também faz parte do ritual de sair para jantar fora", diz o empresário Marcelo Aranha, que aguardava uma mesa havia 40 minutos no Gero. Para Aranha, o Bice comete uma imprudência, pois os maŒtres não conhecem as pessoas e, às vezes, podem cometer uma gafe ao "barrar" alguém. A qualidade do restaurante e o "astral" do cliente são outros motivos que fazem a espera por uma mesa ser ainda um hábito. O Famiglia Mancini tem uma fila tradicional aos domingos. A partir das 13h30, a casa já está lotada. Os dois bancos na porta não são suficientes para acomodar a multidão, que chega a tomar toda a calçada. "Venho com o espírito de esperar, porque o restaurante vale a pena. Até a fila é agradável e eles tomam providências se está demorando muito", conta a estudante Walkyria de Barros, 22, enquanto toma caipirinha. Há estratégias para tornar a espera "confortável". A opção mais clássica é o bar. Quando até ele fica lotado, surgem alternativas. Os garçons do Famiglia Mancini, por exemplo, saem com bandejas de queijos e azeitonas para "enganar" a fome dos clientes. A fila chega a durar uma hora. No francês Ruella, localizado no Itaim, há um mezanino que lembra uma sala de visitas, com sofás confortáveis, uma estante de livros e jogos como gamão e xadrez. A previsão para uma mesa de dois lugares, mesmo numa segunda-feira, às 22h, era de 30 minutos. Mas por que alguns restaurantes, mesmo com reserva, ainda mantêm uma clientela fiel à espera? Um dos motivos é que a maioria deles só segura mesas até as 21h e o paulistano, ao contrário do americano, costuma jantar mais tarde. A "restauranteur" do Ruella, Danielle Dahoui, 27, justifica esse limite de horários pela falta de pontualidade do brasileiro. "Eles não aparecem, não telefonam e ficamos prendendo mesas", diz. O restaurante Maria, com 32 lugares e a casa cheia a partir das 20h30, já não arrisca nem reservar. Mas há aqueles que acreditam que a medida traz benefícios. Para fazer um atendimento personalizado e controlar sua cozinha evitando desperdícios, Vito Simone, dono da cantina Il Fornaio d'Italia, trabalha na base da reserva obrigatória. "Não gosto de esperar para comer e não quero isso para os meus clientes", afirma. Texto Anterior: Forman perverte imagem do 'pervertido' Flynt Próximo Texto: Cultura da reserva Índice |
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