São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Personagens reforçam o elo entre as comunidades

DO ENVIADO ESPECIAL A ELDORADO

Antelino Rodrigues da Silva, 68, diz ter ouvido de seus avós a história de Ivaporunduva. Os escravos eram propriedade de Maria Joana, mineira casada com um português. Ela abandonou suas terras por problema de doença, e os negros "ficaram soltos".
"Nos tempos de Maria Joana, negro carregava pedra e apanhava se caísse no chão. E precisava remar 15 dias para levar até o mar canoa de arroz e trazer canoa de pano e óleo", diz Antelino.
Na aldeia de São Pedro, três quilômetros rio abaixo e oito quilômetros mata adentro, aparece outro personagem mítico.
Chama-se Bernardo Furquim. Ex-escravo fugido de Minas ou Campinas -as versões variam-, ele teve duas mulheres e 24 filhos.
É irrelevante a veracidade (ou não) das informações históricas que circulam entre os descendentes de escravos.
O importante é que eles as utilizem como forma de se sentirem solidários uns com outros, de saberem que têm o mesmo passado e formam um mesmo grupo.
"Temos costumes, um jeito de viver", diz Tião de Ivaporunduva.
O isolamento das comunidades as protegeu da recaptura, e, abolida a escravidão, permitiu a "invisibilidade", um dos termos utilizados pela antropóloga Deborah Stucchi, em relatório encomendado pelo Ministério Público Federal.
Antes disso, dos quilombos até Eldorado, remava-se seis horas, num trajeto que, de ônibus, hoje dura menos de uma hora.
Desde o século 18, o Ribeira de Iguape abrigou aventureiros em busca de ouro. O ciclo teria se prolongado até o começo do século 19. Depois veio o ciclo do arroz.

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