São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
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Enterrado no Rio Evaristo de Moraes

Advogado de Collor sofria de leucemia

DA SUCURSAL DO RIO

Foi enterrado na manhã de ontem, diante de cerca de cem amigos e parentes, o corpo do advogado Evaristo de Moraes Filho.
O enterro foi realizado no cemitério do Caju (região portuária do Rio), menos de 12 horas depois da morte de Evaristo, anteontem à noite, no hospital Samaritano (Botafogo, zona sul do Rio).
Evaristo, 63, sofria de leucemia havia dez anos. Ele estava internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva) desde o dia 20, respirando com auxílio de aparelhos. A causa da morte foi insuficiência renal.
Criminalista do primeiro time de advogados brasileiros, Antônio Evaristo de Moraes Filho defendeu, ao longo de sua carreira, diversas causas e clientes polêmicos, como o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Durante o regime militar, trabalhou de graça em defesa de presos políticos.
Perdeu o processo de impeachment de Collor, enfrentando Evandro Lins e Silva, e conseguiu inocentar Collor da acusação de corrupção, em processo no STF (Supremo Tribunal Federal).
Aos amigos, Evaristo confessou uma certa amargura pelo estigma de ter defendido Collor. "Parecia que eu tinha lepra", comentou.
"Todos têm o direito de defesa. Não pode haver estigma para quem defende causas impopulares", disse ontem Lins e Silva, 85, que discursou diante do jazigo da família Moraes. Ele travou com Lins e Silva (acusação) outro duelo que entrou para a história do direito brasileiro, no julgamento de Doca Street pela morte de Ângela Diniz, no fim dos anos 70.
Mesmo doente, não se recusou a defender causas polêmicas. A última delas foi a defesa de Paula Thomaz, acusada do assassinato da atriz Daniella Perez.
Em entrevista concedida à Folha há cerca de dois meses, Evaristo descartou, porém, a hipótese de ir a júri popular para defender Paula. "É um júri muito cansativo. Não tenho mais condições."
O advogado George Tavares, 63, companheiro de banca de Evaristo durante 35 anos, disse que "o advogado não pode estar contaminado pela opinião pública".
Tavares lembrou o episódio da carta enviada em 1917 por Rui Barbosa ao pai de Evaristo, também advogado, que hesitava em defender um almirante acusado de matar um integrante do Partido Liberal, ao qual o advogado era filiado.
"Rui Barbosa lembrou a obrigação dos advogados de defender todas as pessoas", disse Tavares. "Apesar de socialista, Evaristo fez uma defesa brilhante de Collor."
O presidente do STF, Sepúlveda Pertence, destacou a participação de Evaristo "nos momentos mais negros e duros da luta contra o regime militar".
A mulher de Evaristo, Márcia Parente, 34, disse que o grande orgulho do advogado era a defesa dos presos políticos.
Ele deixou três filhos, todos do primeiro casamento.

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