São Paulo, domingo, 30 de março de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
A CPI e as campanhas
ÁLVARO ZINI As fraudes com o financiamento de títulos públicos, que estão sendo reveladas pela CPI, são da maior gravidade, não só pelos crimes que representam, mas por evidenciarem problemas maiores.Uma das explicações gerais para o desvio de recursos é que boa parte disso serviu para financiar campanhas eleitorais. Mas, ao que tudo indica, apenas parte das fraudes está relacionada a desvio de dinheiro para campanha. Os problemas trazidos à tona pela CPI são mais amplos e só o "dinheiro para campanha" não dá conta de explicar todas as irregularidades. O problema mais profundo é a corrosão de valores que devem presidir o gerenciamento da "coisa pública". Chama a atenção a total ausência de uma política de endividamento público. Dívida pública é assunto sério e deve ser pautada por critérios de quanto, como e quando se endividar em um contexto maior dos objetivos maiores da nação. No Brasil, os últimos anos solaparam de vez qualquer prurido quanto a práticas "espertas" na questão, tanto do lado do governo (por exemplo, pelos calotes sobre o FGTS, as cadernetas de poupança e outras modalidades de poupança da população menos informada), quanto do lado dos credores (fraudes, sonegação fiscal, ganhos ilícitos). Simplificando, formou-se uma aliança de tolerância recíproca pela esbórnia, com "espertos" coniventes, co-devedores e co-participantes dos dois lados. Mas isso acarretou perdas enormes para os poupadores desinformados da população, fundos de pensão e uma enorme dívida pública que será paga por nós, contribuintes. Este é o lado do problema que precisa ser mais debatido, cuja compreensão precisa ser aprofundada. O cidadão médio que segue o noticiário da CPI encontra-se hoje indignado com a facilidade com que as fraudes eram praticadas e fica frustrado por não conseguir entender boa parte dos termos técnicos e práticas financeiras sofisticadas, somente acessíveis para quem conhece o mercado. O que será preciso para superar essa situação que pode desmoralizar todo o esforço de recuperar o país é uma reformulação profunda da questão "dívida pública". Há uma dívida enorme de curto prazo que precisa ser reestruturada com prazos maiores e juros menores; é preciso acabar com a falta de transparência dos leilões de títulos e é preciso voltar a dar prioridade para o lado real da economia e relegar as práticas das "finanças espertas" ao lugar que lhe cabe. Mas será que o governo saberá enfrentar esse desafio? Álvaro Antônio Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP. Texto Anterior: GM inicia concorrência mundial Próximo Texto: Globalitarismo e neobobismo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |