São Paulo, domingo, 30 de março de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atacado e varejo

OSIRIS LOPES FILHO

Dizia o poeta que a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros por aí.
Na área da administração pública federal ocorre um permanente desencontro entre o que o país e, principalmente, o povo necessitam e o que o governo lhes oferece.
Entre a ação efetiva, que produza resultados positivos, que mude a realidade e traga melhor e eficaz prestação de serviços de saúde, educação, segurança, previdência e assistência social, o governo oferece a velha prática de editar leis, medidas provisórias e emendas constitucionais, obrando esse fétido desarranjo normativo, em caudal avassalador.
O fato marcante na atuação do governo federal e que até agora ele tem vendido com sucesso é o prodígio do milagre -esse acontecimento extraordinário que pode, num passe mágico, mudar a realidade.
A mais recente ênfase na mudança mágica é a reforma administrativa de nível constitucional.
Ela mobiliza a esperança do povo, para que haja melhoria nos serviços prestados pelo governo.
Mas há, no caso, propaganda enganosa.
O centro da reforma é a quebra da estabilidade, para facilitar a demissão discricionária do servidor público. Trata-se do combate ao "déficit" público, pela promoção do desemprego.
O difícil em uma reforma administrativa para valer não é mudar a lei, a Constituição, ou o regimento das instituições. O que é árduo, trabalhoso, exigente de competência, é meter a mão na massa, ou, usando o jargão do presidente FHC, pôr mãos à obra, e conduzir uma determinada instituição a funcionar adequadamente.
É uma tarefa que não dá Ibope. Não tem grandiosidade ou propicia manchetes. Mas produz eficácia, na medida em que o órgão passa a operar em nível de qualidade, satisfazendo ao público.
Falando um linguajar a que o ministro Bresser Pereira está afeito, por prática na área dos secos e molhados, trata-se de resolver os problemas no varejo, evitando-se as formulações do atacado.
A complexidade da máquina administrativa está a exigir a correção dos seus desvios, irregularidades e distorções. Para fazer isso, tem-se que penetrar na sua intimidade. É uma mudança de dentro para fora, de baixo para cima. É trabalho duro, mas com isso vai se cumprir a promessa feita pelo presidente FHC, ao anunciar o seu compromisso de "muda Brasil".

Osiris de Azevedo Lopes Filho, 57, advogado, é professor de Direito Tributário e Financeiro da Universidade de Brasília e ex-secretário da Receita Federal.

Texto Anterior: Asean pode ser caminho para latinos
Próximo Texto: Saiba declarar compra de imóveis
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.