São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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"Era intensa em tudo"

LÍGIA CORTEZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Gostaria de me despedir da minha mãe com a intensidade e vida que ela sempre teve em tudo o que fez. A minha gratidão por tudo o que ela fez, me ensinou e dividiu comigo. Uma relação conquistada e aprofundada com o tempo.
Partilhei muitos lados desta mulher. Foi minha mãe, minha professora de teatro, minha companheira de trabalho. Gostaria mesmo de falar sinceramente o que sei, de passar para os outros o que ela me deu.
Célia Helena atriz conciliou um difícil paradoxo dos atores: ser público sem perder a privacidade, a generosidade e discrição. Admiro sempre a forma como atuou na ditadura.
Nunca foi a primeira da fila nas passeatas. Apenas agia. E como. Ajudou de várias formas muitos colegas. Zé Celso e Renato Borghi ficaram escondidos por ela na nossa fazenda.
Atriz preferida de Victor García, começou aos 16 anos no cinema, no estúdio Vera Cruz. Participou do Oficina, do TBC e do Arena. Com o nome de Célia Helena, porque o pai a proibiu de usar o sobrenome, para não comprometer a família.
Começou no cinema, apenas porque a escola de teatro EAD não aceitava menores. Por isso, sempre se preocupou com o jovem e a sua formação. Acreditou na formação desse jovem por meio do teatro. Viveu isso e me fez viver também.
Comecei com ela no Teatro-Escola Célia Helena, aliás, desconfio que ela fundou o teatro muito por minha causa. Sinto orgulho quando lembro que a minha mãe valorizou o teatro na sua essência. Ela deu uma dimensão maior ao trabalho de atriz. Foi uma grande educadora.
Ficamos Elisa (filha que teve no seu casamento com o arquiteto Ruy Ohtake) e eu. Aprendemos sobretudo a beleza e a dignidade do trabalho profundo, pesquisador e quieto. Feito sem alarde, mas na sua essência revolucionário.
Obrigada, mãe. Elisa e eu sentiremos muito sua falta. Agradeço a todos que possibilitaram à minha mãe viver mais um pouquinho. Inclusive ela, que, sofrendo de um câncer tão maligno, deu seu máximo, como foi em toda a sua vida.

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