São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997 |
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Bertolucci paralisa a história em "Estratégia"
JOSÉ GERALDO COUTO
A trama, sugere Borges, deve transcorrer "num país oprimido e tenaz". Aleatoriamente, ele escolhe a Irlanda, em 1824. Ao transpor o conto para a tela, em "A Estratégia da Aranha" (1970), Bernardo Bertolucci situou a história num vilarejo italiano, mas manteve o argumento básico de Borges, quase um teorema sobre a história humana como representação teatral. O entrecho é enganosamente simples. Athos Magnani (Giulio Brogi) desembarca de trem na cidadezinha de Tara, que cultua seu pai, também chamado Athos Magnani, como herói antifascista. Athos filho investiga a morte de Athos pai, mas enfrenta a resistência lacônica dos habitantes do lugar, quase todos velhos. Quem o ajuda e incita é a ex-amante do pai, Draifa (Alida Valli). Mais que esse fio de enredo, importa a maneira como Bertolucci constrói sua parábola. Em termos narrativos, há uma sacada brilhante: nos flash-backs, Athos pai é representado pelo mesmo ator que encarna Athos filho, e seus companheiros são também os mesmos nos dois momentos, sem maquiagem rejuvenescedora. Passado e presente se sobrepõem, num ambiente estático, inalterado. Some-se a isso uma organização ao mesmo tempo pictórica e teatral do espaço -em que prevalecem a simetria, a profundidade de campo, os grandes espaços vazios- e o resultado é uma impressão de abolição do tempo e da progressão histórica. Para o Bertolucci de "A Estratégia da Aranha", como para Borges, a História é um sonho (ou pesadelo) recorrente. É irônico que seis anos depois o cineasta tenha feito o épico esquerdista "1900". Pois não há filme mais antiépico e descrente da "verdade histórica" que "A Estratégia da Aranha". Athos -herói ou traidor- anda pelas ruas desertas de Tara como quem percorre um quadro de De Chirico ou o cenário de uma ópera. A esplêndida fotografia de Vittorio Storaro, os precisos movimentos de câmera, a beleza arquitetônica da cidade (Sabbioneta), tudo isso vale ouro nestes nossos tempos de poluição do olhar. Vídeo: A Estratégia da Aranha Produção: Itália, 1970, 90 min. Direção: Bernardo Bertolucci Com: Giulio Brogi, Alida Valli Lançamento: Sato (011/7295-9555) Texto Anterior: INÉDITOS Próximo Texto: Murphy e Schumacher retratam negro americano Índice |
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