São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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Arte contemporânea atrai nova clientela

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Aquela velha idéia de que arte é cara e, portanto, reservada a privilegiados está caindo por terra. E, com sua queda, evidencia-se um novo tipo de cliente: jovem, bem informado e sem o ideal da coleção como investimento. "Compro porque gosto" é o lema.
Duas mostras recentes na cidade, a da pintora campineira Vânia Mignone, na galeria do Sesc, e a do fotógrafo e artista gráfico polonês Maciej Toporowicz, na Camargo Vilaça, ambas encerradas na semana passada, são prova disso.
A primeira vendeu 17 dos 20 trabalhos disponíveis (entre R$ 100 e R$ 700 cada). A segunda vendeu todos os quatro conjuntos de três fotos (R$ 2.000 o conjunto). A maioria dos clientes era jovem e formada por não investidores.
Natália Dias, 24, administradora de empresas, comprou três fotos de Toporowicz. "Gosto de coisas de impacto e achei as fotos muito atuais na relação que estabelece entre moda e história", disse.
A francesa Juliette Fleuriau, 20, comprou sua primeira obra de arte no Brasil: uma tela de Vânia Mignone. Ela está no país há seis meses, trabalhando como babá, e deve voltar para a França em junho. "Foi a segunda vez que tive vontade de comprar uma obra. A primeira foi na França, mas era muito cara."
A programadora cultural Cristina Madi, 34, também optou por uma tela de Mignone, mas para dar como presente de formatura ao irmão. "Sempre procuro algo emergente e com pesquisa de linguagem", disse.
O videomaker Tadeu Jungle, 41, diz não seguir um método de compra, mas percebe que a maior parte de suas aquisições possui algo figurativo e elementos textuais. "Me interessa esse tráfico da palavra. Acho que é devido ao meu passado de poesia visual", disse.
Sua compra mais recente também foi uma Vânia Mignone, artista que conheceu enquanto era curador no projeto "Antarctica Artes com a Folha". "Gosto de ter um dinheiro para gastar em arte. É bacana ter arte em casa", disse.
"Prefiro comprar um quadro a comprar um sofá novo", afirma a publicitária Teté Pacheco, 32, que também não segue métodos em suas compras. Suas últimas aquisições foram uma tela de Beatriz Milhazes, uma fotografia de Peter Beard e uma tela pequena de Iberê Camargo. "É da série 'Carretéis'. Dividi em prestações", disse Pacheco, ressaltando uma forma de pagamento utilizada por grande parte das galerias.
Teté trabalha com Marcelo Pires, 34, outro consumidor de arte que compra "porque gosta", mas com método. "Tenho consciência de que é um investimento, mas não penso em revender nada. Quero apenas melhorar o meu dia-a-dia", disse. Pires privilegia pintura brasileira. Agora ele está pensando em adquirir um trabalho de Baravelli.
Sérgio Miguêz, 35, afirma ser mais impulsivo em suas compras, embora prefira seus contemporâneos e -ultimamente- escultores. Miguêz também participou, como curador-assistente, do "Antarctica Artes com a Folha". "O projeto me despertou o interesse por artistas que eu não conhecia, como Rivane Neuerschwander, de quem comprei uma obra", falou.

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