São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 1997
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Budapeste recupera o tempo perdido

ARTHUR NESTROVSKI
ENVIADO ESPECIAL À HUNGRIA

Dividida pelo Danúbio correndo sob as pontes entre Buda e Peste; dividida entre um passado que busca esquecer e um futuro que ainda não chegou; dividida entre Ocidente e Oriente, misturando-se aqui, no centro da Europa Central, Budapeste é uma das cidades marcantes desse fim de século e resume muitas das divisões que definem a nossa época.
Os anos de guerra e dominação soviética foram responsáveis, involuntariamente, por preservar a cidade mais ou menos como era em fins do século 19, em seu maior esplendor. Fachadas em mau estado, interiores ainda piores e a fuligem que cobre os prédios não conseguem diminuir a beleza e o charme dessa cidade viva, maliciosa, cheia de segredos, combinando nostalgia e realismo em doses iguais. É uma cidade doce, mas não doce demais -como os doces húngaros, uma das maravilhas da nossa civilização.
"Muitos tempos coexistem hoje na Hungria", declarou à Folha o presidente Árpád Gõncz, que chega amanhã ao Brasil. Sua frase tem sentido político, mas poderia servir como descrição arquitetônica.
Ruas medievais abrigam um castelo barroco; uma sinagoga neobizantina faz contraponto com o Parlamento neogótico; o Monumento à Liberação, um dos poucos resquícios da arte soviética, ergue-se no alto das colinas de Buda, de onde se vê um horizonte sem fim de ruas do século passado.
Neste mês, Budapeste tem ainda outras virtudes, saudadas pelo festival de artes que acontece nesta época, há 15 anos, em teatros suntuosos e não menos suntuosos museus. Dividida entre inverno e primavera, entre neve, chuva e céu azul, a cidade parece uma alegoria natural de si mesma, entre o tempo ruim e outros, melhores, que não deveriam tardar.

LEIA MAIS sobre a Hungria nas págs. 6-2 a 6-12

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