São Paulo, terça-feira, 1 de abril de 1997
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Problema pode causar 'falso alarme'

NOELLY RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, Dan Waitzberg, 46, alerta para um "falso alarme" da população sobre o uso do procedimento.
A alimentação parenteral é usada só em casos de pacientes em estado grave, incapacitados de se alimentar usando o aparelho digestivo. O preparado contém, em forma líquida, os nutrientes necessários para a sobrevivência.
"A alimentação parenteral pode salvar vidas porque, em alguns casos, é a única maneira de alimentação possível. Pacientes que, por exemplo, perderam parte dos intestinos em um acidente de carro, a usam por muitos anos."
Waitzberg diz que as mortes ocorridas por contaminação de algum microorganismo, como uma bactéria, nesse tipo de procedimento podem ser evitadas se os profissionais que o utilizam seguirem as normas estabelecidas para o mundo inteiro.
"É muito difícil dizer se todos os hospitais brasileiros seguem as normas recomendadas. Infelizmente, há profissionais despreparados, que a aplicam e podem provocar a contaminação", diz ele.
Segundo ele, especialistas geram custos para os hospitais, que nem sempre têm recursos.
Laboratório
"Claro que também existe o risco de uma contaminação ocorrer no laboratório. Mas essa possibilidade tende a ser menor."
"Uma das grandes questões é exatamente essa: arriscar administrar os preparados por profissionais não-qualificados ou arriscar deixar que o paciente morra por não administrá-lo?"
Para cem casos de morte provocadas por alimentação parenteral, apenas um foi provocado por laboratório, segundo o médico.
A contaminação no preparo da alimentação parenteral pode ocorrer em diferentes momentos. Tudo deve estar esterilizado.
"Desde a água, em que são misturados os nutrientes, até luvas e gorros, que precisam ser usados pelos manipuladores", afirma.
Autocontaminação
O próprio paciente pode contaminar o catéter (tubo de 1 mm de espessura, introduzido na veia do paciente, pelo qual chega o preparado ao sangue).
"Se o paciente tiver uma infecção qualquer, os microorganismos vão se instalar no catéter. O líquido passa pelo catéter e contamina mais essa pessoa", diz ele.
"Em uma investigação, pode-se concluir que os laboratórios que enviaram cada um dos componentes para o líquido e o hospital que os preparou seguiram as normas estabelecidas."
Os profissionais especializados em alimentação parenteral vão se reunir em um congresso de 30 de novembro a 3 de dezembro, no Anhembi, em São Paulo.
O encontro contará com a participação de especialistas do exterior, que vão discutir normas para evitar o contágio.

100 casos de morte provocada por alimentação parenteral,
2 a 4 foram causadas por contaminação do produto em laboratório

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