São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Ramos negociou captação de empréstimos de SP

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Na gestão de Paulo Maluf (93-96), Wagner Baptista Ramos, apontado como um dos mentores do esquema dos precatórios, foi o principal operador da Prefeitura de São Paulo quando o assunto era captação de recursos.
Ramos chegou a acompanhar o então secretário das Finanças, Celso Pitta, em uma viagem a Washington (EUA) onde negociaram um empréstimo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para obras da prefeitura.
Pitta e Ramos, acompanhados de mais um funcionário da prefeitura, ficaram dez dias nos EUA, entre 1º e 10 de outubro de 1994. Levantaram cerca de US$ 300 milhões para obras de saneamento e pavimentação de avenidas.
A intimidade de Ramos com os grandes empréstimos da prefeitura não parou por aí. Ele também participou da negociação do empréstimo de R$ 120 milhões que Maluf fez junto ao Iprem (Instituto de Previdência Municipal).
Em despacho publicado no "Diário Oficial do Município" no dia 29 de agosto do ano passado, Ramos aparece como "testemunha" do empréstimo.
Um mês depois, em setembro, a prefeitura fez novo empréstimo do fundo de pensão dos funcionários municipais. Novamente Ramos aparece como testemunha. Desta vez, foram mais R$ 30 milhões.
Ramos ainda foi o operador dos empréstimos que a prefeitura fez junto ao Serviço Funerário Municipal no final do ano passado. Totalizaram cerca de R$ 8 milhões.
A intermediação de grandes empréstimos feita por Wagner Ramos demonstra que ele era funcionário de extrema confiança do então secretário Pitta.
O ex-prefeito Paulo Maluf limita a Ramos a responsabilidade pelas ações do ex-coordenador da dívida paulistana. Afirmou que "cada funcionário público, e a prefeitura tem cerca de 140 mil, é responsável pelos seus eventuais erros".
O grau de envolvimento em operações importantes da prefeitura demonstra que Ramos não era apenas "mais um" entre os funcionários da prefeitura.
Comgás
Também foi Wagner Ramos que operou a venda das ações que a Prefeitura de São Paulo possuía da Comgás, empresa controlada pelo governo Estadual e que distribui gás de cozinha.
As ações de empresas que a prefeitura possui permanecem sob responsabilidade da Secretaria das Finanças, onde Wagner Ramos ocupava o cargo de coordenador da Assessoria de Controle da Dívida Pública. No mercado financeiro, há a suspeita de que as ações foram vendidas com alto deságio.
A oposição a Pitta pretende usar a afinidade entre o atual prefeito e Wagner Ramos para facilitar a aprovação de uma CPI na Câmara Municipal. "O fato de Ramos estar envolvido em todas as negociações estratégicas da prefeitura demonstra que dificilmente o atual prefeito não teria conhecimento de suas ações", disse o vereador José Eduardo Cardozo (PT).

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