São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Laudo da Unicamp compromete Gate

JOÃO PAULO SOARES
DA FOLHA CAMPINAS

O tiro que matou o comerciante Osvaldo Manoel da Silva, em ação policial no último dia 1º de fevereiro, em Santo André, foi dado depois que a vítima havia sido retirada de seu apartamento, onde ocorreu a operação.
A conclusão está em laudo do Laboratório de Fonética Forense da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), apresentado ontem pelo perito Ricardo Molina.
O laudo leva à hipótese de que Silva possa ter sido executado pela polícia a caminho do hospital.
Segundo o laudo, dos três tiros recebidos pelo comerciante, apenas os dois primeiros, que acertaram suas costas, foram disparados durante a ação no apartamento.
O terceiro, que atingiu o peito de Silva e teria sido fatal, não poderia ter ocorrido naquele local, de acordo com a análise dos sons e imagens gravados em fitas de vídeo por cinegrafistas amadores.
Oito disparos
A operação envolveu policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), que foram chamados porque o comerciante estaria ameaçando matar sua mulher com um revólver calibre 38.
Silva gesticulava da sacada, com o revólver na mão, quando os policiais invadiram o imóvel e, a partir da sala, começaram a atirar.
"Os sons identificados são todos das armas usadas pela polícia", disse Molina. Pela sequência, foram disparados um tiro de fuzil Sniper, dois de espingarda calibre 12, um de revólver 38, três de submetralhadora HK e outro de 38.
A certeza de que o tiro fatal não aconteceu durante a ação no apartamento, segundo o perito, vem do cruzamento do laudo da Unicamp com o exame necroscópico feito pelo IML (Instituto Médico Legal) de Santo André.
O IML aponta que o tiro fatal veio da submetralhadora HK usada pela polícia, atingindo o peito de Silva de baixo para cima e da direita para a esquerda.
"As imagens mostram claramente que nenhum daqueles tiros poderia desenvolver essa trajetória, já que a vítima estava na sacada em ângulo oposto a este", disse.
Molina também descarta a possibilidade de o comerciante ter sido atingido na sala no apartamento por aquele tiro que ocorreu 44 segundos após a ação na sacada.
A análise dos vídeos mostra ainda que Silva estava vivo quando foi transportado do apartamento para o carro da polícia. "Ele levanta a cabeça duas vezes. E morto não faz isso", disse.

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