São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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'Sabia que o Mário era bom moço'

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

A mãe do conferente morto pela PM, Efigênia Guilhermina Josino, 59, disse ontem que sofreu ao ver as imagens da blitz que terminou com a morte do filho, mas se tranquilizou em saber a versão verdadeira para o caso.
"A polícia mentiu para mim. Disseram que Mário morreu ao reagir e trocar tiros com policiais. Sabia que não era verdade, que ele era um moço bom, e gostei de ver a verdade na televisão."
A mãe disse que não pôde acreditar na versão da polícia porque seu filho não estava envolvido com drogas e detestava qualquer tipo de confusão ou briga. "Era muito chegado à família."
Efigênia diz que manter os PMs presos já é justiça bastante. "Está bom assim, porque eu penso na família deles. Sei como sofri a perda do Mário e não quero que a mulher e os filhos dos policiais sofram da mesma maneira."
Efigênia é viúva há 18 anos. Tem pressão alta e, mesmo aposentada por invalidez, continua trabalhando -como fez nos últimos 40 anos para criar Mário Josino e seus outros nove irmãos.
Quando soube da morte de Mário, a família esperou que Efigênia fosse para seu trabalho, em um hospital, para dar a notícia.
"Os meninos tinham medo da reação dela. Preferiram dar a notícia por um médico e no hospital, onde ela teria assistência se fosse preciso", diz Ana Maria Araújo, amiga da família.
Amigo comum
No vídeo da agressão e assassinato, Mário Josino aparece no carro de Jefferson Sanches Caputi, ao lado do amigo Antônio Carlos Mazola.
Por coincidência, os três rapazes conheciam outra vítima de agressão que aparece na fita, o músico Silvio Lemos, que escapou de um tiro dado pelos PMs três dias antes da morte do conferente.
"Pena que não ficamos sabendo antes. Talvez o Mário tivesse evitado passar por lá", disse Ana Maria Araújo.
Célia Sanches Caputi, 58, mãe de Jefferson Caputi, ainda não se conforma com a agressão.
"Chorei muito. É duro criar um filho com todo amor e carinho e depois vê-lo apanhar daquele jeito."
Como os moradores da favela, a família de Jefferson, de classe média, teme que os policiais ou amigos deles ainda tentem uma vingança contra as vítimas que estejam denunciando sua atitude.
(RSc)

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