São Paulo, quarta-feira, 2 de abril de 1997
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Rússia e Belarus assinam união hoje

PHIL REEVES
DO "THE INDEPENDENT", EM MOSCOU

Apenas cinco anos após ter assinado os acordos de Belovejski, que puseram fim à URSS, Boris Ieltsin espera assinar hoje outro tratado, desta vez num esforço para juntar dois pedaços do antigo império -Rússia e Belarus.
Ieltsin deve se encontrar com seu colega bielo-russo, Alexander Lukachenko, para assinar acordo sobre a união dos dois países, que, embora não seja uma fusão em um único Estado, parece ser mais um passo a caminho de uma reintegração.
A assinatura vem após vários dias de acalorados debates nos círculos políticos de Moscou sobre a conveniência de uma reunificação com uma não-reformada nação de estilo soviético cujas dificuldades econômicas poderiam se transformar em mais uma queima das já comprometidas reservas russas.
Depois de um nervosismo nas negociações, que viram o secretário-geral do Conselho de Segurança da Rússia, Ivan Ribkin, voar até Minsk para tratativas de última hora, o porta-voz de Ieltsin anunciou que o presidente russo queria prosseguir.
O chamado Tratado da União é uma "necessidade geopolítica e uma realidade econômica", afirmou ele.
Mas não ficou claro qual a extensão do documento que os presidentes irão assinar. O Kremlin disse que Ieltsin estava propondo um documento mais conservador que o inicialmente planejado, que determinava, "preto no branco", que as partes uniriam a Comunidade da Rússia e Belarus e transfeririam alguns de seus poderes para a união.
Agindo assim, Ieltsin conseguiu superar a pressão que vinha sofrendo dentro de sua própria máquina administrativa, profundamente dividida sobre a questão.
A união vai coordenar políticas econômicas, externa e de defesa, sem abrir mão da soberania nacional. Enquanto se mostravam favoráveis a aumentar os laços com Minsk, Boris Nemtsov e Anatoli Tchubais -os dois jovens liberais que agora comandam a economia russa- sabidamente temiam que o acordo estivesse sendo aprovado depressa demais.
Suas reservas são compartilhadas pelos liberais russos que recuavam à idéia de maior aproximação com Lukachenko, cujo obscuro histórico de direitos humanos é pior que o de Ieltsin.
A união da Rússia com Belarus, porém, oferece vantagens para os dois líderes. Lukachenko, 42, conseguirá aumentar sua popularidade numa nação em que ele vem cultivando um sentimento de nostalgia pela União Soviética.
Para Ieltsin, há ganhos -mas também possíveis perdas. O acordo vai aumentar a distância das ex-repúblicas soviéticas integrantes da Comunidade de Estados Independentes que não aprovam a idéia de um super-Estado russo. Mas a união com Belarus dará a Ieltsin prestígio dentro de seu país, principalmente entre os conservadores e neocomunistas.

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