São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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PMs matam o triplo do que ferem

FERNANDA DA ESCÓSSIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Dados de relatório inédito da organização de direitos humanos Human Rights Watch/Americas revelam que, em 97 processos de promoção de PMs por bravura no Rio, o número de civis mortos é o triplo do total de feridos.
A organização descobriu que, em casos relatados como tiroteios entre policiais militares e supostos traficantes, houve 72 pessoas mortas e 24 feridas. Seis policiais morreram e 37 foram feridos.
O levantamento foi feito entre maio de 95 e abril de 96, com dados confidenciais do serviço reservado da PM. Para o coordenador da ONG, James Cavallaro, os dados indicam execuções sumárias praticadas pelos policiais.
"A polícia não está atirando para prender, mas para matar. A hipótese mais provável é de execução, e não de tiroteio. Em tiroteios comuns, há sempre mais feridos que mortos. Aqui é o contrário."
A entidade avalia que a política da Secretaria da Segurança do Estado do Rio de instituir premiações em dinheiro para os policiais mais corajosos estimula as mortes.
"Não queremos mortes de civis nem de policiais. Sabemos que há também policiais que morrem em confrontos armados, mas o que criticamos é a explosão de violência na cidade", afirmou.
Mais de 30 mortos
Na semana passada, operações da Polícia Militar no Rio e na área metropolitana deixaram mais de 30 mortos. Só na sexta-feira, foram sete em duas ações da PM. Segundo a polícia, todas as vítimas eram traficantes e resistiram à prisão.
A íntegra do relatório será divulgada este mês, com dados sobre as mortes resultantes da violência policial no Rio, em São Paulo e em mais cinco capitais brasileiras.
O secretário da Segurança, general Nilton Cerqueira, disse que os civis mortos nas ações policiais são bandidos e que "bandido não é cidadão". "Policial militar não é alvo para esses bandidos treinarem tiro ao alvo", afirmou.
Cerqueira disse ainda que as premiações recompensam o esforço dos bons profissionais. "Na polícia, recebe prêmio quem apresenta resultados. Se assim não fosse, nós estaríamos com os nossos xadrezes superlotados, batendo recordes", afirmou o general.
As estatísticas da secretaria indicam que 32 policiais morreram em confronto em 95 e 30 em 96. Nos dois primeiros meses de 97, houve 1 policial morto e 17 feridos.

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