São Paulo, quinta-feira, 3 de abril de 1997
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Invasores de prédios da USP viram inquilinos

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 30 famílias invadiram, na madrugada de ontem, um conjunto de três imóveis da USP (Universidade de São Paulo), na esquina das ruas Pirineus e Brigadeiro Galvão, em Campos Elíseos (região central).
O grupo entrou em acordo com advogados da universidade para permanecer no imóvel pagando um aluguel de R$ 50 por cômodo.
As famílias deixaram um cortiço da rua Tomás de Lima, 85, no centro de São Paulo, e tinham ordem judicial para deixar o imóvel.
O contrato é válido até junho, quando a universidade pretende vender o conjunto, e prevê também que os 150 novos condôminos terão preferência na compra.
Segundo Marly Yamamoto, 37, advogada do conselho jurídico da USP, que fez o acordo com os invasores, a universidade resolveu regularizar a ocupação.
Detalhes serão acertados amanhã na USP. Os moradores terão que numerar os quartos e identificar os responsáveis por cada um dos 22 cômodos, como num prédio de apartamentos, e apresentar os dados na reunião.
Segundo Verônica Kroll, do Fórum dos Cortiços, que articulou a ocupação com os ex-encortiçados, com a União dos Movimentos de Moradia (UMM) e a Pastoral da Moradia, é a primeira vez que uma ocupação tem resultado positivo.
"Eles poderão mostrar que podem viver em comunidade, respeitando os espaços de cada um."
"Se nós não agarrarmos essa oportunidade, podemos botar a corda no pescoço e nos jogar de uma árvore", disse Salomão Albers Loureiro, 17, vendedor autônomo, que deixou o cortiço da Tomás de Lima para tornar-se inquilino da USP.
O camelô Paulo César Rosa, antes de mudar para o imóvel da USP, contou que o despejo, no cortiço, era inevitável. "O despejo já estava decretado desde a semana passada e a execução estava prevista para hoje (ontem). Eles (a polícia) não vieram até agora, mas nós não vamos ficar mais aqui."
Segundo Rosa, o dono do imóvel, após tomar ciência da decisão judicial, tentou um acordo com os moradores do cortiço. "Ele disse que alugaria os quartos por valores entre R$ 100 e R$ 250 e que depois não haveria mais despejo. Achamos isso uma indecência."

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