São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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Os métodos tucanos

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Em meio a precatórios e barbáries da PM em Diadema, o governo FHC continua revelando mais detalhes saborosos sobre o que é, na filosofia tucana, levar o Brasil para o Primeiro Mundo.
A reforma administrativa é um caso emblemático.
Só para recapitular, essa reforma instituiria um teto máximo para os salários dos funcionários públicos de todo o país. Seria de R$ 10.800.
Pois bem, como muitos parlamentares recebem aposentadorias, teriam uma perda financeira. Perderiam a aposentadoria.
O governo FHC não teve dúvidas. Permitiu que a reforma deixasse que cada funcionário público receba, além do salário, uma aposentadoria.
Essa história já é, por si só, nada edificante. Mas o pior é como o governo FHC divulga essas negociatas.
Primeiro, a versão era que um recuo a respeito do teto salarial seria inaceitável. Era papo-furado. Já estava tudo combinado entre os líderes governistas e o ministro político, Sérgio Motta.
O atraso na divulgação do acerto, na quarta-feira, se deu apenas porque havia uma disputa sobre quem deveria assumir o ônus da besteira.
Serjão havia dito que permitir uma aposentadoria além do teto representaria apenas uma "merreca" para os cofre públicos. Apesar de o governo preferir aprovar só o teto único.
As declarações espontâneas do ministro foram a senha para os parlamentares. No dia de votar a reforma, acharam que poderiam manter seus privilégios com o apoio do governo.
Aí, Serjão engrossou. Agora, já se sabe, ofendendo o presidente da Câmara, Michel Temer. Para o bem do Legislativo, consta que Temer bateu o telefone na cara do ministro.
Serjão queria que os deputados aprovassem apenas o teto máximo, sem uma aposentadoria extra.
Temer disse que haveria derrota certa. Isso irritou Serjão. Afinal, o ministro não entende como o esforço concreto -muito concreto-, usado para aprovar a emenda da reeleição, possa ter se evaporado tão rapidamente.

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