São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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Mercado country fatura R$ 1,48 bi no país

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Caiu do cavalo quem apostou que o country era uma modinha passageira. O estilo faz girar um mercado que fatura R$ 1,48 bilhão em rodeios, shows, discos e acessórios (veja quadro ao lado).
O valor equivale ao que o país importou em automóveis em 1996.
É o Brasil dos com-terra que transformou o país no segundo mercado para produtos country do mundo, atrás dos EUA, mas à frente de Canadá e Austrália.
Já não é só o seleiro de beira de estrada que se interessa por esse mercado. Marcas como Brahma e General Motors também estão indo para o mundo de Marlboro.
A trajetória de Fábio Guimarães Arantes, 32, resume um pouco esse mundo. Começou em 1983 vendendo laços que havia trazido dos Estados Unidos em arquibancadas de rodeio, lá em Goiás.
Na primeira vez, recuperou o dinheiro da passagem. Hoje tem uma rede com oito lojas "western", a Smith Brothers, é o maior importador de acessórios country e fatura perto de R$ 8 milhões ao ano, segundo seus concorrentes.
Passando o futebol
O motor desse mercado são os rodeios. Acontecem ao ritmo de cem por mês no país e atraem mais público do que o Campeonato Brasileiro de Futebol, segundo Flávio Silva Filho, 39, presidente da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos (a 438 km de São Paulo).
Em 1996, 24 milhões de pessoas viram peões montar cavalos xucros. Já o Brasileiro atraiu 3,12 milhões.
Não por acaso, o tema da festa de Barretos deste ano é "Rodeio, um Grande Negócio".
Grande negócio para quem? Para todo mundo, diz Silva Filho: para a cidade, para os peões, para os organizadores e para quem anuncia ou vende seus produtos. "Rodeio virou um shopping center country. O clima de festa e aventura facilita as vendas", diz.
Barretos é o melhor exemplo do grande negócio em que rodeio se converteu. Em 1956, a primeira festa foi feita sob uma lona de circo alugada. Ano passado, atraiu 1,1 milhão de pessoas e movimentou R$ 120 milhões, diz Silva Filho. Hotéis num raio de 120 km de Barretos ficaram lotados.
A festa cresceu tanto que, a partir deste ano, terá a assessoria informal do publicitário Alex Periscinotto, 66, sócio da Almap.
Periscinotto já identificou dois filões inexplorados em Barretos: a cidade não usa a fama de Meca do country fora do período da festa, na segunda quinzena de agosto, e faltam heróis ao rodeio.
Barretos planeja cobrir o primeiro buraco com um parque temático de US$ 50 milhões, cuja viabilidade está sendo estudada.
Não é o único parque temático que pretende explorar a temática country, no rastro do sucesso de Beto Carrero em Santa Catarina.
O empresário Valdomiro Poliselli Jr., 36, começa a construir no próximo ano um parque em Jaguariúna (a 120 km de São Paulo). Planeja investir R$ 8 milhões.
Ele quer aproveitar os 4 milhões de habitantes da região de Campinas e a renda per capita de R$ 6.500 para transformar a cidade na capital country brasileira.
"Isso aqui vai virar um Texas", prevê. Ele já tem uma casa de shows para 2 mil pessoas, a Red, "um Palace melhorado", como diz. Inaugura este mês uma arena coberta para 7 mil pessoas.
Não param aí suas investidas. Está trazendo estrelas da música country, como Billy Ray Syrus (cachê de US$ 120 mil), e tem uma grife que produz e importa roupas.
Tem lojas em Barretos e Jaguariúna e chega a São Paulo em julho. Se Jaguariúna virar Dallas, a cidade já tem o seu J.R., o chefão do seriado. Poliselli Jr. vai lavar a égua.

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