São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Fita de vídeo ainda gera desconfiança

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem sabia da existência da fita de vídeo que detonou a atual crise na Polícia Militar? A pergunta continua criando desconfianças na cúpula da Segurança Pública de São Paulo.
O comandante-geral da PM, coronel Claudionor Lisboa, foi o último a ouvi-la, do secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva. A resposta, exigida por escrito, foi dada no último sábado.
Lisboa negou, ao escrever a nota, ter conhecimento da fita antes da segunda-feira, 31 de março, quando a TV Globo procurou a secretaria querendo um comentário.
Para o secretário, a resposta não é novidade. José Afonso da Silva já havia ouvido, da boca do coronel, os mesmos argumentos. O que fez a desconfiança que paira na PM rondar de novo a cabeça de Lisboa foram declarações suas levadas aos jornais.
Na quinta-feira, Lisboa disse em entrevista na Secretaria da Segurança Pública: "Recebi uma informação sobre a existência da fita. Eu desconhecia até aquele momento a profundidade dos fatos, mas já tinha conhecimento de que havia a fita."
Continuou: "Eu sabia, por exemplo, que o fato teria acontecido quando o Gol onde estava Josino havia, em tese, furado um bloqueio montado pela Polícia Militar e a vítima foi morta por um policial não-identificado."
Os repórteres quiseram saber mais e o coronel se contradisse. "Nós não sabíamos da existência da fita. Sabíamos que, quanto ao Gol, poderia haver uma fita."
Ao ler as declarações de Lisboa, o secretário ligou imediatamente para o comandante. Pediu uma manifestação por escrito.
Na resposta dada sábado, Lisboa afirma ter tido conhecimento da fita por volta das 19h do dia 31 de março, quando um jornalista da TV Globo "fez contato com a assessoria da PM e solicitou uma entrevista". "Tais fitas mostrariam cenas da evasão de um veículo Gol de um bloqueio montado por policiais militares e os policiais reagindo a bala", escreveu Lisboa.
O secretário da Segurança, segundo sua assessoria de imprensa, não comentou a resposta dada por Lisboa.
A importância do conhecimento da fita está no fato de que nem o governador Mário Covas nem o secretário da Segurança sabiam que circulava entre os meios policiais o vídeo comprometedor.
Na segunda-feira, Covas foi surpreendido por um telefonema da Globo, que havia obtido a fita e pedia explicações. Solicitou-as ao secretário, que tampouco sabia de fita alguma.
Lisboa foi acionado. Disse que se tratava de um caso de violência de Diadema. Segundo ele, um repórter que o procurara havia dado as informações de que dispunha.

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