São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Tipo de trabalho produz doenças, diz médico

DA REPORTAGEM LOCAL

O trabalho do policial militar favorece o aparecimento de distúrbios emocionais e psicológicos, segundo psiquiatras ouvidos pela Folha.
Os médicos acreditam, porém, que o tipo de trabalho não justifica violências como as exibidas na TV.
"Não há dúvida que condições desfavoráveis do ambiente são fatores de risco do aparecimento de distúrbios. Mas isso não pode ser colocado em relação de causa e efeito", diz José Cassio do Nascimento Pitta.
O médico, coordenador da unidade de Psiquiatria do Hospital São Paulo, diz que não é possível fazer um diagnóstico por intermédio de um vídeo.
Mas comentando a cena em que o policial Otávio Gambra, o Rambo, aparece atirando no Gol que deixa a favela Naval, em Diadema, o médico diz que se pode entender o estado psicológico do PM "como uma impulsividade descontrolada, encontrada, muitas vezes, em vários transtornos de personalidade".
O psiquiatra do hospital São Paulo classifica a profissão de policial militar como "um trabalho de uma condição de estresse, um trabalho patogênico (capaz de produzir doenças)". "Mas isso não minimiza a gravidade da violência praticada em Diadema", diz ele.
Para Wagner Gattaz, a pressão sobre o policial militar existe, mas talvez não seja maior que a exercida sobre um "manager", que tem sobre si a força de um mercado altamente competitivo.
Gattaz, que é chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, diz não poder excluir a hipótese de os PMs de Diadema terem patologias mentais.
Mas afirma que, de acordo com estudos internacionais da década de 60, a agressividade aparece dez anos mais tarde em doentes mentais que em indivíduos sadios.
"A princípio, o que há é mais uma doença moral, não mental. É a facilidade com que a violência passou a ser cotidiana. A barreira para o crime é muito menor hoje. Tanto do lado da polícia quanto dos bandidos."
"É bem possível que o contato diário com o crime ajude a 'bagatelizar' a importância de um crime. Principalmente entre aqueles que não têm formação moral."

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