São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Valorizar o ensino

AUGUSTO CESAR PETTA

A informação de que os alunos das instituições privadas foram a maioria dos que tiveram desempenho ruim no provão do MEC, realizado em 1996, pegou de surpresa apenas aqueles que não acompanham o processo de educação no Brasil -e talvez do próprio governo. Não é de hoje que professores, alunos e trabalhadores das instituições de ensino privadas e públicas denunciam e lutam contra o sucateamento da educação no nosso país.
O governo, ao mesmo tempo em que corta verbas destinadas ao ensino público, incentiva a comercialização do setor. E quando se depara com o triste quadro revelado pelo provão, em vez de fazer uma investigação séria e pertinente da situação criada, opta por aprofundar ainda mais o caminho que levou à queda constante da qualidade de ensino. O MEC e o BNDES falam em conceder empréstimos às escolas privadas. Mas e a fiscalização e a qualidade do ensino, como ficam?
Nessa hora, professores e trabalhadores do ensino são colocados sob suspeita e até mesmo responsabilizados pela crise. Não teriam qualificação. E mais uma vez o trabalhador leva a culpa pela má gestão e pela desorientação impostas ao ensino brasileiro por sucessivos governos que privilegiam as escolas privadas e não cumprem com suas obrigações de zelo pela qualidade do ensino.
Ao longo das três últimas décadas, a comercialização do ensino tem sido um dos ramos de negócio mais lucrativos do país. Os proprietários de escolas, na maior parte dos casos, não possuem qualquer afinidade com a educação, mas são especialistas nas leis de mercado!
Não é por acaso que existem no MEC cerca de 4.000 novos pedidos de autorização para aberturas de cursos de ensino superior. Também não é por acaso que a maior parte dos pedidos é para cursos que requerem baixos investimentos, mas propiciam altos lucros rapidamente. Os alunos são vistos, pelos proprietários dos estabelecimentos de ensino, como fonte inesgotável de rentabilidade.
Os professores são tratados como mão-de-obra barata. Encontram uma multidão de alunos em sala, precárias condições de trabalho, carga horária excessiva, trabalho extraclasse penoso, patrões autoritários, salários inadequados. Enfrentam inúmeras dificuldades para se manter atualizados sobre as matérias que ministram e para desenvolver estudos e pesquisas em seus ramos de saber.
Os professores, na sua grande maioria, são contratados por hora-aula, não sendo remunerados nas pesquisas que são tão necessárias em instituições de ensino efetivamente comprometidas com o povo, a nação e o saber.
A regularização das atividades de educação no setor privado é um imperativo na defesa da qualidade do ensino. Para nós, professores e trabalhadores da administração escolar, a educação é um dever do Estado e um direito inalienável do cidadão. A atuação do setor privado nessa área tem que ser regulada e fiscalizada pelo Estado.

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