São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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A quatro mãos (16)

WASHINGTON OLIVETTO; PAULO ANDRÉ BIONE

WASHINGTON OLIVETTO & PAULO ANDRÉ BIONE
Eu acredito cada vez menos em concursos de propaganda.
Acho que a maioria perdeu a sua função de documentar a profissão para se transformar em caça-níqueis e redutos de conchavos que alimentam a propaganda fantasma, genérica ou copiada.
Tanto assim que, de seis anos para cá, tirei a W/ da maioria dos concursos, até porque percebi que a excessiva premiação dava uma impressão distorcida da agência para diretores de marketing de alguns prospects.
Só que é um ponto de vista empresarial, e eu posso compreender perfeitamente que premiações sejam importantes para profissionais em busca de visibilidade e afirmação no mercado e agências em fase de implantação ou renovação.
Isso sem falar dos muitos profissionais que ainda acreditam que os concursos podem se recuperar.
É o caso do talentoso Paulo André Bione, para quem deleguei este ano a responsabilidade de eleger os concursos que a W/ participa.
Paulo André tem total liberdade. Discute com o grupo, seleciona e inscreve onde quiser. A agência paga. Eu apenas não preciso concordar nem participar pessoalmente. Seria eu excessivamente crítico e cético? Ou o Paulo André excessivamente otimista?
Convidei Paulo André para comentar esse assunto no "A quatro mãos" de hoje.
*
Eu acredito que os concursos de propaganda podem se recuperar.
Basta que os profissionais de criação tomem consciência de que as coisas do jeito que estão prejudicam os próprios profissionais de criação.
Dão aos homens de marketing uma impressão distorcida da gente.
Alimentam a idéia de que somos um grupo de alienados preocupados em brilhar para nós mesmos. Uma espécie de eternos estagiários em busca de um portfólio.
Quando um concurso premia idéias isoladas em vez de campanhas consistentes, temas "festivaleiros" em vez de problemas mercadológicos, soluções "pseudo brilhantes" na forma em vez de soluções realmente brilhantes no conteúdo, quem sai perdendo somos nós, profissionais de criação.
Porque a premiação não se materializa aos olhos de quem paga a conta.
E não aumenta o prestígio e o status profissional do autor fora do círculo dos próprios criadores.
Foi por isso que eu aceitei ser o responsável pelos prêmios (seleção, escolha, inscrições etc.) numa agência onde os donos e a maioria dos criadores já não está mais ligando para prêmios.
Porque eu acredito que as coisas devem mudar.
Serei eu exageradamente otimista?
Não. Eu sei que hoje o problema está presente na maioria dos concursos. Nacionais e internacionais. Tanto do lado de quem promove como, principalmente, de quem julga.
Mas sei também que está na hora de o pessoal se tocar.
E é por isso que eu participo.
Para tentar trazer de volta critérios mais sólidos e menos fúteis, mais profissionais e menos amadores, mais coletivos e menos individuais.
E participo também porque eu quero ganhar prêmios.
Só que prêmios que gerem muito mais do que um certo frisson entre os coleguinhas.
Prêmios que gerem respeito e admiração dos colegas, dos empresários da propaganda e dos clientes.
Prêmios que me permitam construir uma carreira sólida e consistente. E -quem sabe- que me permitam um dia até ser dono de agência.
Uma agência que não precise se preocupar em levar uns prêmios para ser bem-sucedida.

Washington Olivetto é presidente e diretor de criação da W/Brasil e Paulo André Bione é redator da W/Brasil.

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