São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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O estranho mundo do My Bloody Valentine

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

especial para a Folha Viciados em cultura trash se matam nos Estados Unidos por acreditar que o Juízo Final não passa de um episódio mais caprichado de "Jornada nas Estrelas".
A PM de São Paulo faz o clássico "Laranja Mecânica" parecer um conto adocicado dos irmãos Grimm.
Neste tumultuado fim de século, em que a realidade supera a cada dia seus próprios recordes de bizarrice, não é fácil ser esquisito.
Mas Kevin Shields, guitarrista da banda britânica My Bloody Valentine, consegue.
Shields inventou o rock de guitarras dos anos 90. Pegou a distorção praticada por bandas como Jesus & Mary Chain e imprimiu melodia àquela barulheira toda.
Ele é gênio, mas sofre de doentia improdutividade.
O último álbum do My Bloody Valentine, "Loveless", data de 1991. E sua gravação foi dificílima. Nas palavras do próprio Shields: "Demoramos tanto para gravar 'Loveless' porque, de cara, erramos o passo e depois não conseguimos mais acertar. Até o último minuto, achávamos que terminaríamos tudo em mais dois meses -passamos dois anos achando que terminaríamos tudo em mais dois meses".
É como se Kevin Shields fosse um versão britânica do Mutante Arnaldo Dias Baptista. Obcecado por questões técnicas, grava quase nada porque sempre acha que o som não está ideal.
No começo deste ano, em entrevista on line a fãs, Kevin Shields resumiu em duas palavras o que o leva a ficar tanto tempo sem gravar: "doença mental".
Com raciocínio confuso, ele disse que estará "morto" se não conseguir lançar um disco em 1997. Depois, completou: " Mas não estou sendo pressionado".
Desanimados com a clausura psicológica do líder, outros componentes do My Bloody Valentine pularam fora do barco. A baixista Debbie Googe chegou a virar chofer de táxi em Dublin, República da Irlanda, mas agora entrou em outra banda, o Snowpony.
O vocalista Dave Conway abandonou tudo por causa de uma infecção estomacal crônica.
O My Bloody Valentine (nome que poderia ser traduzido como Dia dos Namorados Sangrento) está hoje reduzido ao próprio Kevin e sua mulher, a cantora Belinda Butcher.
Pelas letras das canções, fica ainda mais difícil entender Kevin Shields. Os álbuns do MBV são mixados de modo a tornar os vocais praticamente inaudíveis.
No mês passado, uma notícia inesperada. Finalmente, Kevin Shields tinha gravado algo, uma participação no novo disco do Dinosaur Jr. As lojas americanas já têm o álbum e de fato Kevin Shields está lá -só que, em vez de tocar guitarra, faz apenas alguns vocais de apoio...
Quanto ao novo CD do MBV, existe todo tipo de boato. Há quem garanta que nada foi gravado ainda, mas dizem também que o disco estaria pronto, e que, depois de tanto tempo, Kevin teria decidido que ficou péssimo e recusa-se a lançá-lo.
Kevin Shields faz 34 anos no próximo dia 21 de maio.

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