São Paulo, segunda-feira, 7 de abril de 1997
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Beats buscavam liberdade poética e existencial numa América Imperial

DA PUBLIFOLHA

Bem antes de ser um movimento literário, os chamados escritores beats eram mais um grupo de amigos irmanados pela busca de uma liberdade poética e existencial, segundo eles cada vez mais ausente na América que se transformava em império já nos anos 40.
Foi nessa época que o núcleo básico se formou, em Nova York. Ginsberg, William Burroughs e Jack Kerouac iniciavam então uma história que implodiu todos os cânones da literatura americana de antes da Segunda Guerra.
Mas não eram de todo niilistas, destruidores. Dialogavam com a tradição li3bertária de seus conterrâneos Walt Whitman e Emerson, os poetas românticos ingleses, os franceses Rimbaud e Baudelaire, as vanguardas européias, Freud, Jean Genet e outros "malditos".
Mas não se preocupavam em elencar referências. Queriam alterar suas consciências, ampliar ao máximo suas experiências perceptivas, delas extraindo, finalmente, o que seria uma literatura livre.
Antes do budismo, as drogas foram o primeiro passo dos beats, consumidas ora em nome da arte, ora pelo desespero do viciado. Burroughs foi mais além, desenvolvendo, após se limpar, técnicas literárias -como o cut-up-, percepção extra-sensorial e discussões sobre o que viria a se tornar a Cientologia com seu criador, o escritor L. Ron Hubbard.
Jack Kerouac buscava uma América do passado, a América de Whitman e dos espaços amplos para correr. O autor de "On the Road" era talvez o mais ingênuo do bando, e morreu deprimido, bêbado e brigado com todos os seus velhos amigos em 1969.
Ginsberg foi um dos primeiros militantes gays dos EUA, causando reações indignadas ao mostrar, com seu companheiro Peter Orlovsky, que existe amor entre pessoas do mesmo sexo. Burroughs era bem mais escatológico e nunca teve qualquer escrúpulo em narrar sua atração por menininhos.
Não estamos aqui fazendo justiça a poetas como Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso, Gary Snyder e vários outros que, junto a traficantes, viciados, ladrões e michês, circulavam em torno dessa "Santíssima Trindade Beat", da qual sobrou somente o velho Burroughs. E todos rezam hoje um "Kaddhish" a Allen Ginsberg.

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