São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Renato Braz persegue vozes negras em seu CD de estréia

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Apresentando-se na noite desde os 16 anos, só agora, aos 29, o cantor e violonista paulistano Renato Braz chega ao CD de estréia, que leva seu nome. De peculiar, traz um timbre de voz que, embora saído de garganta branca, aproxima-se do modo negro de cantar de Milton Nascimento e Djavan.
"Cresci ouvindo esses cantores, e também Luiz Gonzaga, Dori Caymmi, Tim Maia... Mas não acho que minha voz seja parecida com as deles", afirma.
Como seus prediletos, cita Elis Regina, entre as mulheres, e Tim Maia, entre os homens ("ele cantando 'Arrastão' é maravilhoso"); entre os mais novos, Mônica Salmaso, que participa de seu CD.
Tem sido sempre autodidata. "Além das apresentações em bares e casas de shows, nos fins-de-semana, canto em casa diariamente, desde os 16 anos."
Começou tocando bateria e logo passou ao violão. Fez trabalhos em publicidade ("mas sempre com música") e tocou em discos de Chico César, Eduardo Gudin, João Ricardo (ex-Secos & Molhados) e Vange Milliet.
Seu trabalho exposto até o momento é sempre o de intérprete e instrumentista (faz quase toda a percussão do disco). "Tenho algumas composições minhas, mas não pensei em gravar ainda."
O disco de estréia é, assim, resultado de uma seleção de canções e autores que ele vem fazendo desde o início da carreira. "Tem um pouco de tudo. O que me emociona, eu retenho e condenso."
Aqui, escolheu músicas conhecidas de Luiz Gonzaga ("Assum Preto"), Dorival Caymmi ("Retirantes"), Silas de Oliveira ("Meu Drama"), Jackson do Pandeiro ("Cantiga do Sapo"), Dori Caymmi ("Porto", "Estrela da Terra") e até Chaplin ("Smile", na versão em português de Braguinha).
Outra parte é de canções inéditas, de Guinga e Aldir Blanc ("7 X 7"), de Paulo César Pinheiro e Mário Gil ("Anabela") e de compositores de sua geração já em ascensão, Chico César ("Pagã") e Zeca Baleiro ("Bambayuque").
O elemento de conexão é, segundo ele, a simplicidade. "É a base do meu trabalho. Essa é a minha cara, a da tranquilidade", diz.
No saudosismo ele encontra a outra pedra fundadora de sua obra -seja pela seleção de temas antigos (como "Onde Está Você", que Alaíde Costa gravou nos 60) ou pelo arcabouço de arranjos e instrumentos.
"É importante ser saudosista. O novo não existe sem o passado", afirma o artista, apresentado à música pelos discos que o pai baiano, admirador de forró e sanfoneiros nordestinos, lhe apresentou.

Texto Anterior: Músico opta por leitura moderna
Próximo Texto: Invenção é pouca e boa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.