São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

De olho no Brasil

CELSO PINTO
DE OLHO NO BRASIL

A compra do Bamerindus pelo Hongkong and Shanghai Banking Corp. (HSBC), além de chacoalhar positivamente a concorrência no sistema financeiro brasileiro, quebrou um mito: o de que não havia bancos estrangeiros interessados em grandes bancos de varejo no Brasil.
Mesmo entre executivos de bancos estrangeiros, a decisão do HSBC surpreendeu. Por duas razões básicas: porque se considerava o mercado bancário brasileiro saturado e porque a tendência mundial tem sido de os bancos substituírem redes de agência bancária por serviços automatizados. Se é assim, por que comprar uma rede tão grande de agências no Brasil?
A discussão se existem ou não bancos demais no Brasil é interessante e vale uma coluna futura. O fato é que ficou revelado, na prática, que existem alguns bancos estrangeiros de porte interessados em montar uma rede de varejo no Brasil. Os que tentaram e não levaram o Bamerindus poderão se interessar por outros bancos com perfil parecido, como o Banespa.
Até mesmo os que até agora não tinham demonstrado interesse poderão pensar duas vezes. Como diz o presidente de um banco estrangeiro no Brasil, o HSBC, ao investir US$ 1 bilhão no país, deu uma sinalização para todos sobre o mercado. Com o custo de tecnologia diluído entre 40 milhões de clientes no mundo, o HSBC chega no país com uma vantagem de partida gigantesca.
A disputa pelo Bamerindus revelou pelo menos mais um banco internacional de porte interessado no mercado de varejo brasileiro: o Nations Bank. O Nations era um banco regional americano até que, com a liberalização da lei bancária, tornou-se o terceiro maior banco do país por meio de grandes fusões.
A própria direção do Bamerindus levou ao Banco Central a intenção do Nations de comprá-lo. Tarde demais: a conversa ocorreu no mesmo dia em que o BC anunciou a intervenção no Bamerindus.
O interesse do Nations pelo Brasil é recente, mas tem uma raiz sólida. Seu principal executivo para a área internacional é Robert Bailey, ex-presidente do Citibank no Brasil.
O Nations começou ampliando suas linhas de crédito comercial no Brasil, a maneira mais conservadora de testar um mercado. Recentemente surpreendeu ao anunciar sua disposição de participar do consórcio da CSN para a compra da Vale do Rio Doce.
O Nations teria oferecido levantar uma linha de crédito de US$ 1,2 bilhão para a operação e entrar, ele mesmo, com uma participação de US$ 400 milhões em capital. Esse fato, mais a oferta pelo Bamerindus, confirmam o tamanho da ambição do banco no Brasil.
Outro banco que demonstrou interesse pelo Bamerindus, embora sem formalizar uma proposta, foi a Caixa Geral de Depósitos, banco estatal português. Antes dele, outro banco da Península Ibérica, o Santander, tinha entrado no Brasil por intermédio do Banco Geral de Comércio.
O BC diz que escolheu o HSBC porque ele fez a melhor proposta. Pode até ser verdade, mas não foi a única razão. O BC queria injetar mais competição no sistema bancário brasileiro e a entrada de um gigante internacional era a maneira mais eficaz de fazê-lo.
Além disso, o BC há tempos está preocupado em não deixar o sistema bancário muito concentrado na mão de quatro grandes bancos paulistas. Além de o HSBC ser inglês, ele aceitou manter a sede em Curitiba. Outra razão é que o apetite e o fôlego do HSBC ao entrar no Brasil ampliavam as chances de o fim do Bamerindus não gerar cortes e desemprego, o que os fatos estão confirmando.
Pelas primeiras reações que o HSBC provocou, aqui e no exterior, o BC parece ter acertado na mosca.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

Texto Anterior: Sugestão para a reforma
Próximo Texto: Feldman assume a Casa Civil de Covas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.