São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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Major admite ter agredido uma pessoa

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O major Álvaro Rodrigues Garcia, 32, assume ter batido num dos rapazes parados pela PM (Polícia Militar) em blitz ocorrida na favela de Cidade de Deus (zona oeste do Rio) no último dia 23.
Em conversa anteontem à tarde no 18º BPM (Batalhão de Polícia Militar), em Jacarepaguá (zona oeste), o major disse a seu advogado, Paulo Saboya, que bateu com "uma varinha de madeira" nas pernas de um morador da favela.
Chefe de outros cinco PMs durante a ação na favela, Garcia cumpre prisão preventiva determinada pelo juiz Marcius Ferreira, da Auditoria Militar do Rio.
No depoimento prestado na madrugada de anteontem ao corregedor da PM, coronel Laércio Pacheco, o major confessou ter participado da operação.
"Ele não tinha como dizer que não estava. As imagens o mostram lá. Ele não ia deixar de assumir sua presença", disse Saboya ontem à tarde à Folha na ante-sala do gabinete do juiz da Auditoria Militar.
Na conversa com o advogado, Garcia demonstrou preocupação com o fato de vir a ser acusado de agredir favelados com golpes de palmatória nas mãos.
"Ele não tinha palmatória nenhuma. Só uma varinha de madeira com que bateu de leve nas pernas de um deles", afirmou Saboya.
No relato ao advogado, o oficial qualificou como uma "coisa eventual" a série de agressões registradas na ação policial.
"O major está muito deprimido. É um homem com uma ficha limpíssima, bastante conceituado na corporação. Naquele dia, ele chegou a levar duas moças em casa. E as moças levaram broncas das mães", disse o advogado.
Saboya afirmou que aguarda a denúncia pelos promotores para traçar a estratégia de defesa.
Uma das linhas de atuação deverá ser a de tentar caracterizar a favela de Cidade de Deus como um local muito perigoso.
"No local mostrado na filmagem funcionava um ponto-de-venda de drogas. Ali mesmo, algum tempo antes, um capitão foi baleado e, pela gravidade do ferimento, ele terá que deixar a corporação", disse o advogado.
O major Garcia, que cursou a Escola de Oficiais, está há 15 anos na corporação. Antes do 18º BPM, serviu no Centro de Inteligência da Secretaria de Segurança e no 9º BPM, em Rocha Miranda (zona norte). Em 96, teve aumento pela prática de supostos atos de bravura.

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