São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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Flamengo tem contrato recorde nas mãos

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, a comissão jurídica do Flamengo examina um contrato que, especula-se, deve ser o maior acordo entre um time de futebol e uma empresa fabricante de materiais esportivos que se tem notícia.
O contrato da multinacional Umbro com o Flamengo poderá render ao rubro-negro, somados todos os números, até US$ 6 milhões por ano.
Na verdade, as duas parte renegociam o contrato, pois o atual só expira em 1998.
Embora a quantia seja altíssima, alguns pontos preocupam a comissão jurídica do Flamengo.
Em primeiro lugar, existe a pendência do contrato com Bebeto. O Flamengo ainda deve para a Umbro US$ 3,2 milhões do passe de Bebeto.
Kleber Leite, o presidente do Flamengo, solicita que o abatimento da dívida só comece a vigorar a partir de 1999.
Membros da comissão jurídica estranham que ele deixe para outra gestão a dívida relativa ao passe de Bebeto, ficando com o dinheiro limpo para usar no seu mandato.
Kleber Leite adota a pratica comum entre políticos e presidentes de clube no Brasil: deixar dívidas para os sucessores.
Outro ponto de preocupação para os membros da comissão é que o contrato teria validade de sete anos, só expirando em 2004. Alguns membros da comissão acham o prazo muito longo, justamente agora que o futebol brasileiro começa a receber investimentos mais pesados dos patrocinadores.
Kleber Leite argumenta que a Umbro só tem interesse em prazos alongados (lembra que o contrato da Nike com a seleção brasileira é de dez anos).
Outra preocupação para os integrantes da comissão são as exigências consideradas "draconianas" do contrato.
Algumas das exigências da Umbro chegam a ser engraçadas. Uma delas é a que diz que o Flamengo deve zelar para que não saia nenhuma foto, imagem ou notícia de um de seus jogadores vestindo material esportivo das marcas concorrentes da Umbro.
Até aí, tudo bem.
O problema é que o contrato exige que, se alguma notícia nesse sentido for publicada, o Flamengo fica obrigado a desmentir a notícia.
Estranho, não?
Mais curioso ainda foi a defesa de Kleber Leite na reunião com a comissão.
Ele disse que essas cláusulas draconianas eram uma maneira de a empresa multinacional se preservar nos, digamos assim, descaminhos do futebol brasileiro.
Logo ele, Kleber, que tem participado ativamente da desorganização local.
Com o contrato com a Umbro, mais a grande verba da televisão que vem por aí, mais o patrocínio do clube, o Flamengo passa a ter o seu cofrinho bastante engordado.
Resta saber como Kleber Leite e a sua diretoria vão empregar esse dinheiro. Não se pode esquecer que ele é um clube com um alto endividamento.
O time vai entrar em uma euforia de contratações ou vai equacionar o seu passivo?
E o governo? Vai continuar contando com apenas 5% das rendas, que é o menor faturamento do clube, para abater a enorme dívida do Flamengo com o INSS?
Vamos aguardar.

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