São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 1997
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Documentário registra harmonia dos baka

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em era de Internet e violência urbana, o cineasta Thierry Knauff, nascido no Zaire e radicado na Bélgica, descobriu e registrou uma sociedade que parece primitiva, mas tem uma organização muito mais civilizada que a nossa, vivendo em total harmonia entre seus membros e com a natureza.
No filme "Baka", que será exibido hoje no Cinesesc -depois do russo "Hoje Vamos Construir uma Casa" (19h)- como parte da programação do 2º Festival Internacional de Documentários, existe um registro desse povo.
Durante três anos, Knauff, 39, fez viagens para Camarões (país na costa oeste da África) para conhecer os baka, nômades que vivem da caça e pesca.
Sua música e dança, seus rituais e sua escola -as crianças aprendem por meio de histórias mitológicas contadas pelos anciãos do grupo- são mostrados no documentário de forma poética.
Em entrevista por telefone, Knauff conta como foi fazer um filme em Camarões sobre os baka.
*
Folha - Como você conheceu os baka?
Knauff - Visitando Camarões. Antes disso, havia lido a respeito deles. Como são um povo nômade e musical, é possível encontrá-los pela floresta por sua música.
Folha - Você foi bem recebido?
Knauff - Os baka estão entre os povos mais gentis que já conheci. Depois de passar algum tempo com eles, se surpreenderam quando disse que iria embora. Quando souberam por que estava lá, me aceitaram e confiaram em mim. Considero que este filme não é sobre os baka, é com os baka. Tenho um grande respeito por eles e tentei registrar um pouco das suas vidas de forma poética.
Folha - No filme, há cenas em que um homem mais velho conta as histórias fantásticas sobre baka para as crianças. Ele é o líder?
Knauff - Não existe um chefe no grupo, mas há um grande respeito pelos mais velhos. Como para eles é importante conhecer profundamente a floresta, são os mais velhos que passam às novas gerações esse conhecimento. Desta forma perpetuam sua mitologia, com suas histórias, sua música e dança.
Folha - Quantos baka existem?
Knauff - Como a floresta vem sendo gradativamente devastada, a última estimativa apontava que restam menos de 50 mil. Desses, no máximo 10% vivem na floresta, como seus antepassados e como os que estão no filme. Os outros se misturaram à cultura urbana.
Folha - Como foi chegar lá com todo o equipamento de filmagem?
Knauff - Não houve estranhamento. Para eles, uma câmera é só mais um objeto. Fomos a 18 campos diferentes para filmar. Foi uma verdadeira expedição, porque o equipamento era muito pesado.

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