São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 1997
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Garoto acusa PMs de queimá-lo com ácido

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O adolescente M.F.A., 15, deu ontem um depoimento à polícia acusando soldados da PM de Pernambuco de espancá-lo e colocá-lo sentado sobre um tonel contendo ácido muriático, com as nádegas e parte dos órgãos genitais, do abdome e das coxas mergulhadas na solução.
Ele sofreu queimaduras de 2º e 3º graus nas nádegas, costas, órgãos genitais e em parte do abdome. O ácido muriático é um ácido clorídrico impuro, usado para limpeza.
O caso está sob investigação da DPCA (Diretoria de Proteção à Criança e ao Adolescente), em Recife (PE).
O caso ocorreu em 8 de fevereiro, sábado de Carnaval, mas só ontem o adolescente depôs à delegada de Repressão aos Crimes contra Crianças e Adolescentes da DPCA, Jaidete Lima Ferreira.
Devido aos ferimentos, M.F.A. ficou 39 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital da Restauração, onde foi submetido a três cirurgias para enxerto de pele.
O adolescente, que ainda se recupera das queimaduras em sua casa, disse que foi abordado por cinco policiais por volta das 16h, quando retornava do desfile do Galo da Madrugada com dois meninos que conheceu na folia.
Eles teriam decidido colher mangas no jardim de uma empresa, quando um vigia teria disparado dois tiros contra o grupo. O barulho teria atraído PMs que controlavam o trânsito.
"Eu me abaixei, os dois meninos correram e, quando a polícia chegou, foi logo perguntando onde estava o revólver", disse M.F.A.. Segundo o rapaz, os policiais o obrigaram a sentar num tanque com ácido muriático, usado pela empresa para limpar peças. "Quando deixaram eu sair, ainda deram uns tapas nas minhas costas", declarou.
Levado num carro de polícia ao Hospital da Restauração, M.F.A. disse que no caminho os PMs determinaram a ele que declarasse que havia escorregado e caído.
Acusado de tentativa de assalto, o garoto permaneceu sob vigilância da PM no período em que esteve hospitalizado. Em 17 de março, a DPCA abriu inquérito.
A mãe de M.F.A., Severina Nita da Conceição, disse que não denunciou antes a violência policial por medo de represália.
O Cendhec (Centro Dom Hélder Câmara de Estudo e Ação Social), organização não-governamental de proteção a crianças e adolescentes, informou que vai entrar com ação indenizatória contra o Estado. A entidade, que vai prestar assessoria jurídica ao adolescente, pode também pedir segurança para a família de M.F.A.

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